quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Ter ou ser? Disponibilizado novo livro de Erich Fromm


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INTRODUÇÃO DE ERICH FROMM A TER OU SER?


A GRANDE PROMESSA,
O SEU FRACASSO E AS NOVAS ALTERNATIVAS


O fim de uma ilusão
A Grande Promessa de Progresso Ilimitado - a promessa de domínio da Natureza, de abundância material, de maior felicidade para o maior número de indivíduos, e de liberdade pessoal irrestrita - alimentou a esperança e a fé de inúmeras gerações desde o início da Revolução Industrial. Para sermos precisos, a nossa civilização iniciou-se quando a raça humana começou a ter controlo activo sobre a Natureza; mas esse controlo manteve-se limitado até ao advento da Revolução Industrial. Com o progresso da indústria, desde a energia, primeiro mecânica e depois nuclear, que vieram substituir as energias animal e humana, até ao computador que veio substituir a mente do Homem, foi possível sentir que estávamos a avançar para a produção ilimitada e, portanto, para o consumo ilimitado; que a técnica nos tornava omnipotentes; que a ciência nos tornava omniscientes. Estávamos a caminho de nos tornarmos deuses, seres supremos, capazes de criar um segundo mundo, usando o mundo natural apenas como bloco integrante da nossa nova criação.
O homem, e um número crescente de mulheres, experimentaram um novo sentido de liberdade; tornaram-se donos das suas próprias vidas: os grilhões feudais tinham sido quebrados e cada um podia fazer o que quisesse, liberto de todas as algemas. Pelo menos foi assim que as pessoas se sentiram. E ainda que isto fosse apenas verdade para as classes média e alta, a sua conquista levou os outros à crença de que, eventualmente, a nova liberdade poderia estender-se a todos os membros da sociedade, contanto que a industrialização prosseguisse a sua marcha. O Socialismo e o Comunismo depressa passaram de um movimento cujo objectivo era uma nova sociedade e um novo homem para outro movimento cujo ideal era uma vida burguesa para todos, o burguês universalizado nos homens e mulheres do futuro. A conquista da riqueza e do conforto para todos era vista como o culminar de uma felicidade sem restrições. A trindade da produção ilimitada, liberdade absoluta e felicidade irrestrita formaram o núcleo de uma nova religião.
O progresso e uma nova cidade terrena de progresso substituiriam a cidade de Deus. Não é de espantar que esta nova religião fornecesse aos seus crentes energia, vitalidade e esperança.
É importante visualizar a imensidão da Grande Promessa, as maravilhosas conquistas materiais e intelectuais da Revolução Industrial para podermos compreender o trauma que a constatação do seu fracasso está a produzir nos dias de hoje. Porque a Revolução Industrial falhou efectivamente no cumprimento da sua Grande Promessa, e um número cada vez maior de pessoas está a tomar consciência de que:
1 - A satisfação irrestrita de todos os desejos não conduz ao bem-estar, não é o caminho para a felicidade nem para o máximo prazer.
2 - O sonho de sermos independentes, donos das nossas próprias vidas terminou quando começámos a acordar para o facto de que nos havíamos tornado todos nós, rodas dentadas da máquina burocrática, com os nossos pensamentos, sentimentos e gostos manipulados pelo governo, pela indústria e pela comunicação de massas que eles controlam.
3 - O progresso económico manteve-se confinado às nações ricas e o abismo entre estas e as nações pobres aumentou imensamente.
4 - O próprio progresso tecnológico criou perigos ecológicos e os riscos de uma guerra nuclear, podendo qualquer um deles, ou ambos, pôr fim a toda a civilização e a qualquer possibilidade de vida.
Quando veio a Oslo, receber o Prémio Nobel da Paz (1852), Albert Schweitzer desafiou o mundo «a ousar encarar a situação... o Homem tornou-se um super-homem... Mas o super-homem, com o poder super humano, não atingiu o nível da razão super-humana. À medida que o seu poder aumenta ele torna-se cada vez mais um pobre homem ... É preciso abanar a nossa consciência, pois, quanto mais nos assemelhamos a super-homens, mais desumanos estamos a tornar-nos».

Porque falhou a Grande Promessa?
O fracasso da Grande Promessa, para além das contradições económicas essenciais do industrialismo, foi criado dentro do sistema industrial pelas suas duas principais premissas: (1) que a finalidade da vida é a felicidade, ou seja o máximo prazer, definido como a satisfação de todos os desejos ou necessidades subjectivas do Homem (hedonismo radical); (2) que o egocentrismo, o egoísmo e a avidez, que o sistema necessita de gerar a fim de assegurar o seu funcionamento, conduzem à harmonia e à paz.
1 — É sabido que, ao longo da história, os ricos praticaram o hedonismo radical. Os de infindáveis posses, tais como a elite de Roma, das cidades italianas da Renascença, e da Inglaterra e da França nos séculos XVIII e XIX, tentaram encontrar um sentido para a vida no prazer ilimitado.
Mas, enquanto o máximo prazer, para o hedonismo radical, era uma prática de certos grupos em certas ocasiões, apenas com uma excepção anterior ao século XVII, nunca a teoria do bem-estar foi expressa pelos grandes mestres da vida na China, Índia, Próximo Oriente e Europa.
A única excepção foi o filósofo grego Aristippus, um pupilo de Sócrates (primeira metade do século IV antes de Cristo), que defendeu a teoria de que experimentar o auge do prazer físico era o objectivo da vida, sendo a felicidade a soma total dos prazeres usufruídos. O pouco que sabemos da sua filosofia devemo-lo a Diógenes Laertius, mas basta que consideremos Aristippus como o único verdadeiro hedonista, para quem a existência de um desejo constitui base legítima para a sua satisfação, atingindo deste modo o objectivo da vida: o prazer.
Epicuro dificilmente pode ser visto como representante do tipo de hedonismo de Aristippus. Para Epicuro o prazer «puro» era o objectivo mais elevado, este prazer significava «ausência de dor» (aponia) e quietude da alma (ataraxia). Segundo Epicuro, o prazer e a satisfação de um desejo não podem constituir o objectivo da vida, porque esse prazer é obrigatoriamente seguido de uma insatisfação e deste modo mantém a Humanidade afastada da sua finalidade real: a ausência de dor. (A teoria de Epicuro é, de várias formas, semelhante às de Freud.) Todavia, ao que parece, Epicuro representou um certo tipo de subjectivismo contrário à posição de Aristóteles, como se depreende dos relatos contraditórios sobre as declarações.
Nenhum dos outros grandes mestres defendeu que a existência concreta de um desejo constituía uma norma ética. A sua preocupação era o máximo bem-estar da Humanidade (vivere bene). O elemento essencial no seu modo de pensar é a distinção feita entre as necessidades (desejos) que apenas são sentidos de forma subjectiva e cuja satisfação leva a um prazer momentâneo, e aquelas que estão enraizadas na natureza humana e cuja realização conduz ao crescimento do Homem e produz eudaimonia, ou seja, bem-estar. Por outras palavras, era sua preocupação a distinção entre as necessidades sentidas de forma puramente subjectiva e as necessidades objectivamente válidas - podendo parte da primeira distinção ser perniciosa para o crescimento humano e estando a segunda de acordo com os requisitos da natureza humana.
A teoria de que o objectivo da vida é a satisfação de todos os desejos foi amplamente proclamada, pela primeira vez desde Aristippus, por filósofos dos séculos XVII e XVIII. Tratava-se de um conceito que iria facilmente destacar-se quando «benefício» deixasse de significar «benefício para a alma» (como acontece na Bíblia e até mais tarde, em Spinoza) e passasse a ter um significado material, de lucro monetário, no período em que a classe média se desfez não só das suas algemas políticas, mas também de todas as dependências amorosas e de solidariedade, e acreditou que "existir apenas em função de si" significava ser mais ela própria e nunca menos. Para Hobbes a felicidade é o contínuo progresso de uma avidez (cupiditas) para outra; La Mettrie chegou a aconselhar as drogas como oferecendo pelo menos a ilusão de felicidade; para o marquês de Sade a satisfação dos impulsos cruéis é legítima, apenas porque eles existem e anseiam por satisfação. Estes foram os pensadores que viveram na Idade da vitória final da classe burguesa. O que antes tinham sido as práticas não filosóficas dos aristocratas, transformou-se na teoria e na prática da burguesia.
Muitas teorias éticas têm sido desenvolvidas desde o século XVIII - algumas constituíram formas mais aceitáveis de hedonismo, como, por exemplo, o utilitarismo; outras foram estritamente sistemas anti-hedonistas, como as de Kant, Marx, Thoreau e Schweitzer. Contudo, a nossa época, de uma maneira geral, desde o fim da Primeira Grande Guerra, voltou à prática e à teoria do hedonismo radical. O conceito de prazer ilimitado estabelece uma estranha contradição com o ideal de trabalho disciplinado, semelhante à contradição entre a aceitação de uma obsessiva moral do trabalho e o ideal de um ócio total no resto do dia e durante o tempo de férias. O que tornou possível esta visão tão contraditória foi, por um lado, a infindável corrente de transmissão da linha de montagem e a rotina burocrática, por outro, a televisão, o automóvel e o sexo. O trabalho obsessivo, por si só, levaria as pessoas à loucura, tanto quanto o ócio total. A combinação dos dois permite-lhes viver. Além disso, as duas atitudes contraditórias correspondem a urna necessidade económica: o capitalismo do século XX baseia-se no consumo máximo de bens e serviços produzidos, assim corno no rotineiro trabalho de equipa.
As considerações teóricas demonstram que o hedonismo radical não pode conduzir à felicidade e explicam o porquê com base na natureza humana. Mas, mesmo sem análises teóricas, as informações que nos chegam mostram claramente que a forma como «buscamos a felicidade» não produz bem-estar. Somos uma sociedade de gente visivelmente infeliz: sós, ansiosos, deprimidos, destrutivos, dependentes - gente que se alegra quando "matou o tempo" que tão desesperadamente tentou poupar.
A nossa experiência social é a maior alguma vez feita no sentido de resolver a questão de se o prazer (enquanto afecto passivo em contraste com o afecto activo, o bem-estar e a alegria) poderá ou não ser uma resposta satisfatória para o problema da existência humana. Pela primeira vez na História, a satisfação do prazer não constitui apenas o privilégio de uma minoria. Tornou-se acessível a mais de metade da população. A experiência respondeu já à questão, pela negativa.
2 — A segunda premissa psicológica da Revolução Industrial, de que a procura do egoísmo individual conduz à paz e à harmonia, ao alargamento do bem-estar de todos, é igualmente errónea em bases teóricas e mais uma vez a sua falácia é comprovada através de documentos disponíveis. Porque motivo este princípio, rejeitado apenas por um dos grandes economistas clássicos, David Ricardo, seria verdadeiro? Ser egoísta não se relaciona apenas com o meu comportamento mas com o meu carácter. Ou seja: que "querer tudo para mim; possuir, não partilhar, me dá prazer"; que "devo tornar-me ávido", porque, se o meu objectivo é ter, eu sou tanto mais quanto mais tiver; que "devo sentir todos os outros como meus adversários": os meus clientes a quem quero iludir, os meus concorrentes a quem quero destruir, os meus trabalhadores que pretendo explorar. Nunca poderei estar satisfeito, porque não existe fim para os meus desejos; devo sentir inveja daqueles que têm mais e receio daqueles que têm menos. Mas tenho de reprimir todos estes sentimentos para poder revelar-me (aos outros e a mim próprio) como o ser humano sorridente, racional, sincero e amável que toda a gente pretende ser.
A paixão pelo ter conduzirá a uma interminável luta de classes
A visão dos comunistas de que o seu sistema porá fim a essa luta é pura ficção, dado que o seu sistema se baseia no princípio de consumo ilimitado como objectivo de vida. Enquanto toda a gente quiser ter mais, haverá constituição de classes, haverá luta de classes e, em termos globais, haverá guerra internacional. Avidez e paz anulam-se mutuamente.
O hedonismo radical e o egoísmo ilimitado não poderiam ter surgido como princípios condutores do comportamento económico, se uma mudança drástica não tivesse ocorrido durante o século XVIII. Na sociedade medieval, como em muitas outras altamente desenvolvidas e também nas sociedades primitivas, o comportamento económico era determinado pelos princípios éticos. Assim, para os teólogos eruditos, as categorias económicas, tais como a propriedade pública e privada, faziam parte da teologia moral. É certo que os teólogos encontraram expressões para adaptar o seu código moral às novas exigências económicas (por exemplo, Tomás de Aquino na qualificação do conceito de «preço justo»). Todavia, o comportamento económico continuou a ser um comportamento humano e, portanto, sujeito aos valores da ética humanística. Através de várias etapas, o capitalismo do século XVIII foi sujeito a uma mudança radical: o comportamento económico foi separado dos valores éticos e humanos. Com efeito, a máquina económica deveria ser uma entidade autónoma, independentemente das necessidades e desejos do Homem. Foi um sistema que decorreu naturalmente e de acordo com as suas próprias leis. O sofrimento dos trabalhadores, assim como a destruição de um número sempre crescente de pequenas empresas em nome do crescimento de corporações cada vez maiores, foi uma necessidade que, ainda que pudesse ser lamentada, havia que aceitar como o resultado de uma lei natural.
O desenvolvimento deste sistema económico não era já determinado pela pergunta: "O que é bom para o Homem?" mas por uma outra: "O que é bom para o crescimento do sistema?". Tentou-se ocultar a desonestidade deste conflito assumindo que o que era bom para o crescimento do sistema (ou mesmo de uma única corporação) era igualmente bom para o povo. Esta interpretação foi patrocinada por uma outra, auxiliar: que as próprias características que o sistema exigia dos seres humanos - egocentrismo, egoísmo e avidez - eram inatas na sua natureza e que, portanto, não era apenas o sistema que as alimentava, mas a própria natureza do Homem. As sociedades em que o egocentrismo, o egoísmo e a avidez não existiam eram consideradas «primitivas», os seus habitantes «infantis». As pessoas recusavam-se a admitir que estas características não eram vias naturais e que apenas serviam para levar a sociedade industrial a existir e que, além disso, foram os produtos das circunstâncias sociais.
Não é de considerar menos importante um outro factor: a relação das pessoas com a Natureza tornou-se profundamente hostil. Sendo, como somos, «fenómenos da Natureza», existindo dentro dela pelas próprias condições do nosso ser e transcendendo-a pela dádiva da razão, tentámos resolver o nosso problema existencial desistindo da visão messiânica da harmonia entre a Natureza e a Humanidade, optando por conquistá-la, transformá-la, de acordo com os nossos interesses, até que essa conquista se tornou cada vez mais semelhante à destruição. O nosso espírito de conquista e a nossa hostilidade cegaram-nos para os factos de que as fontes naturais têm os seus limites e podem eventualmente esgotar-se, e de que a Natureza pode voltar-se contra a violação humana.
 A Sociedade Industrial despreza a Natureza - assim como todas as coisas que não são máquinas e as pessoas que não as fabricam (as raças de cor, com as recentes excepções do Japão e da China). As pessoas são hoje atraídas para a mecânica, a máquina poderosa, o vazio e cada vez mais para a destruição.

 A necessidade económica de uma mudança humana
 Até aqui a questão que se tem colocado tem sido a de que os traços de carácter desenvolvidos pelo nosso sistema socioeconómico, ou seja, pelo nosso tipo de vida, são patogénicos e efectivamente produzem um ser enfermo e, portanto, uma sociedade doente. Existe, contudo, um segundo argumento, de um ponto de vista totalmente diferente, a favor das profundas mudanças psicológicas do Homem, como alternativa à catástrofe económica e ecológica. Tem a sua origem em duas comunicações patrocinadas pelo Clube de Roma, uma delas da autoria de D. H. Medows e a outra de M. D. Mesarovic e E. Pestel. Ambas as comunicações tratam as tendências tecnológicas, económicas e populacionais à escala mundial. Mesarovic e Pestel concluem que só através dessas mudanças drásticas a nível global, de acordo com um plano director, poderá ser evitada a maior e irreversível catástrofe; e as informações que apresentam a comprovar a sua tese baseiam-se na mais global e sistemática pesquisa efectuada até aos dias de hoje (o seu livro contém certas vantagens metodológicas em relação à comunicação de Medows, mas este estudo inicial prevê medidas económicas ainda mais drásticas, como alternativa para a catástrofe). Mesarovic e Pestel concluem ainda que essas mudanças económicas só são possíveis se ocorrerem alterações fundamentais nos valores e atitudes do Homem (ou, como diria eu, na orientação do seu carácter), tais como uma nova ética e uma nova atitude para com a Natureza. As suas afirmações apenas vêm confirmar o que outros disseram antes e após a publicação do seu trabalho: que uma nova sociedade só é possível se ao longo do processo do seu desenvolvimento surgir um novo ser humano, ou, em termos mais simples, se uma mudança fundamental ocorrer na estrutura do carácter do Homem contemporâneo.
 Infelizmente, as duas comunicações estão escritas dentro do espírito da quantificação, abstracção e despersonalização, tão característico do nosso tempo, e além disso negligenciam por completo todos os factores políticos e sociais, sem os quais nenhum plano realista pode ser efectuado. Apresentam, todavia, informações válidas e, pela primeira vez, encaram a situação económica da raça humana como um todo, com as suas possibilidades e os seus perigos. A conclusão de que é necessária uma nova ética e uma nova atitude para com a Natureza é tanto mais válida quanto se trata de uma exigência totalmente contrária às premissas filosóficas dos autores.
 A outra possibilidade da questão, trata-a E. F. Schumacher, que é também um economista e simultaneamente um humanista radical.
 A sua exigência de uma mudança humana total baseia-se em dois argumentos: que a ordem social da actualidade nos torna doentes e que nos estamos a encaminhar para uma catástrofe económica, a menos que alteremos radicalmente o nosso sistema social.
 A necessidade de profundas mudanças humanas emerge não só como uma busca moral ou religiosa, não só como uma necessidade psicológica surgida de uma natureza patogénica do nosso presente carácter social, mas também como uma condição para a pura sobrevivência da raça humana. A forma correcta de viver deixou de ser apenas o cumprimento de uma necessidade moral ou religiosa (pela primeira vez na história a sobrevivência física da raça humana depende de uma alteração profunda do coração do Homem). Todavia, essa mudança terá de acompanhar a dimensão das alterações económicas e sociais ocorridas, capazes de dar ao coração humano uma hipótese de mudar e coragem e visão para o conseguir.
Existirá alternativa para a catástrofe?
 Todas as informações até aqui referidas estão publicadas e são do conhecimento geral. O que é quase inacreditável é que nenhum verdadeiro esforço tenha sido feito no sentido de evitar o que parece ser um decreto definitivo do destino. Enquanto ao nível da nossa vida privada, ninguém, a não ser um louco, ficaria passivo face a uma ameaça à sua própria existência, aqueles que se encontram à frente dos cargos públicos não fazem praticamente nada e os que colocaram o seu destino nas mãos deles permitem que continuem a nada fazer.
 Como é possível que o mais forte de todos os instintos que é o da sobrevivência, pareça ter cessado de nos motivar? Uma das explicações mais óbvias é o facto de os dirigentes levarem a cabo muitas acções que lhes permitem fingir que estão a tomar medidas efectivas para evitar a catástrofe: inúmeras conferências, resoluções, discursos sobre o desarmamento, vêm dar-nos a impressão de que existe o reconhecimento da dimensão dos problemas e de que algo está a ser feito no sentido de os resolver. Nada de verdadeiramente importante acontece, mas tanto os dirigentes como os seus seguidores anestesiam a consciência e o desejo de sobreviver, transmitindo-nos a imagem de conhecer bem o caminho e de estar a avançar na direcção certa.
 Outro ponto de vista é o de que o egoísmo gerado pelo sistema faz com que os dirigentes valorizem mais o êxito pessoal do que a responsabilidade social. Deixou de ser chocante que os dirigentes políticos e os executivos tomem decisões notoriamente do seu interesse pessoal, que simultaneamente são nocivas e perigosas para a comunidade. Com efeito, se o egoísmo é um dos pilares da prática moral contemporânea, porque deveriam agir de outro modo? Eles parecem ignorar que a avidez (tal como a submissão) torna as pessoas estúpidas, na própria definição dos seus interesses, como é o caso da sua vida, das suas mulheres e dos seus filhos. (J. Piaget, The Moral Judgment ofthe Child - "O julgamento moral da criança") Ao mesmo tempo, o público, em geral, está tão egoisticamente centrado nos seus próprios problemas que presta muito pouca atenção a tudo o que transcende o seu domínio pessoal.
 Existe ainda outra explicação para o amortecimento do nosso instinto de sobrevivência. É a que defende que as mudanças no tipo de vida que nos seriam exigidas são de tal modo drásticas que as pessoas preferem a futura catástrofe ao sacrifício que teriam de fazer agora.
 A descrição de Arthur Koestler de uma sua experiência durante a guerra civil espanhola constitui um exemplo vivo desta atitude generalizada.
 Koestler instalou-se na confortável mansão de um amigo enquanto o avanço das tropas de Franco era noticiado; não havia qualquer dúvida de que eles chegariam durante a noite, e de que provavelmente ele seria morto. Poderia ter continuado livre se fugisse, mas a noite estava fria e chuvosa e a casa quente e confortável. Por isso ficou, foi feito prisioneiro e salvou-se muitas semanas mais tarde, quase por milagre, graças aos esforços dos seus amigos jornalistas. É este o tipo de comportamento das pessoas que arriscam morrer porque recusam submeter-se a um exame que pode diagnosticar uma doença grave, passível de exigir uma operação cirúrgica.
 Para além destes motivos, que explicam a passividade fatal da Humanidade em questões de vida e de morte, há um outro que constitui uma das razões para escrever este livro. Refiro-me ao facto de não termos alternativas para os modelos de capitalismo corporativo, social-democracia, socialismo soviético ou «fascismo tecnocrático com ar risonho». A divulgação desta ideia deve-se, em grande parte, ao facto de muito poucos esforços terem sido feitos no sentido de estudar a viabilidade de modelos sociais inteiramente novos e de os pôr à experiência.
 Na verdade, enquanto os problemas da reconstrução social não ocuparem, ainda que parcialmente, a atenção dos nossos melhores cérebros, actualmente preocupados com a ciência e a técnica, a imaginação não conseguirá visualizar alternativas novas e realistas.
 O principal objectivo deste livro é introduzir a análise dos dois modos básicos de estar no mundo: o modo ter e o modo ser. No capítulo de abertura apresento uma primeira abordagem relativa às diferenças entre os dois modos. O segundo capítulo demonstra essa diferença, utilizando diversos exemplos retirados da experiência do dia-a-dia, que os leitores poderão facilmente relacionar com a sua própria experiência.
 O capítulo III apresenta as perspectivas de Ter e Ser no Antigo e Novo Testamento e nos escritos do mestre Eckhart. Os capítulos subsequentes tratam dos pontos mais complexos: a análise da diferença entre os modos de estar no mundo segundo o Ter ou Ser, nos quais tento elaborar conclusões teóricas com base em informações empíricas. Até este ponto o livro refere-se principalmente aos aspectos individuais dos dois modos básicos de existência. Os capítulos finais dão relevância a estes modos na formação do Novo Homem e da Nova Sociedade e encaminham-se para possíveis alternativas à debilitante doença do ser e ao catastrófico desenvolvimento socioeconómico em todo o mundo.

INTRODUÇÃO a «Ter ou ser?», Erich Fromm, Presença 22002 (a partir do original em inglês de 1976), pp.13-22.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

ABAIXO A MORTE! Por qual motivo a opinião pública norte-americana, em sua maioria, se mostra indiferente à tragédia vietnamita?



ABAIXO A MORTE!
Por qual motivo a opinião pública norte-americana, em sua maioria, se mostra indiferente à tragédia vietnamita?

Erich Fromm
(Trecho de uma palestra que o famoso psicanalista, filósofo e escritor pronunciou no Madison Square Garden, em novembro de 1966. Transcrito da revista norte-americana Fellowship, número de março, 1967)

                Os defensores da guerra que os Estados Unidos desenvolvem no Vietnã afirmam que nossas tropas estão lutando lá para garantir a liberdade. Como muitos de meus compatriotas, considero totalmente ilusória essa premissa, mas não pretendo perder tempo, aqui e agora, com a discussão desse problema. O que desejo é chamar a atenção dos que me ouvem para um ponto que me parece da mais alta relevância: mesmo que fosse verdadeira a noção que nossa atividade militar no Vietnã estivesse ajudando o povo sul-vietnamita tornar-se livre, não estaremos prejudicando ao longo do processo, - prejudicando a nós mesmos e a toda a humanidade – de maneira infinitamente superior ao bem que acreditamos estar praticando?
            Não me refiro especificamente ao perigo cada vez maior de que o conflito vietnamita se transforme num holocausto nuclear. Refiro-me à indiferença crescente que vimos demonstrando, ano após anos desde a Primeira Guerra Mundial, à vida e à brutalização do homem. Naquela guerra, tremendas batalhas foram travadas sem que se levasse em conta a perde de vidas humanas em cada lado: em áreas restritas, no curso de alguns dias, dezenas ou mesmo centenas de milhares de soldados foram mortos. Lembremo-nos de Verdun. As forças em conflito também se julgavam defensoras da liberdade, embora estivessem lutando por conquistas territoriais, matérias-primas e prestígio.
            Depois de tanta carnificina, a humanidade ficou como que preparada para aceitar sem protesto novos horrores: os horrores dos campos de concentração da Alemanha nazista, dos campos de trabalho forçado criados por Stálin, a aniquilação de muitos milhões de homens cuja única falha eram serem indefesos. Acostumada pouco a pouco a essas brutalidades maciças, por que é que a humanidade haveria de protestar contra a primeira destruição, por bombardeio aéreo, de uma pequena aldeia? Refiro-me à destruição da cidadezinha de Guernica por aviões alemães, durante a Guerra Civil Espanhola. Quando a Segunda Guerra Mundial começou pouco restava daquela força interior, que o homem chama de consciência, cujo sentido é um protesto inerente contra a estúpida destruição da vida.
            Feita a primeira experiência, os alemães passaram à destruição sistemática de cidades inteiras, como Varsóvia, Amsterdã, Coventry. Os aliados reagiram da mesma forma, eliminando mais de 100.000 homens, mulheres e crianças, numa só noite, queimados vivos em Dresden, cidade que não constituía de maneira alguma um objetivo militar. E vieram depois as bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasaki.
            Inaugurada a era nuclear em terreno bélico, quantos chefes de estado, das grandes potências – homens que em suas vidas privadas podem ser tão dignos e decentes como qualquer ser humano -, não se prepararam para a possibilidade de uma guerra atômica, uma guerra que destruirá a civilização e talvez a própria vida sobre a face da Terra? É verdade que esperam não ter que utilizar armas atômicas, mas estarão prontos a fazê-lo para defender os objetivos políticos que considerem legítimos.
            Como poderemos entender isso? Será possível que no momento exato em que a humanidade se encontra no limiar de fabulosas realizações, há tantos séculos desejadas, tenhamos diante de nós uma tremenda indiferença à destruição generalizada?
            Creio que a origem desse paradoxo se encontra, como já disse, no fato de que tanto o amor e o respeito pela vida humana quanto nosso protesto moral contra a destruição tenham enfraquecido paulatinamente, dia após dia, ano após ano, desde 1914. A guerra no Vietnã talvez seja o último elo nesse processo contínuo de nossa insensibilização progressiva, de nossa indiferença, à vida e à destruição. Nossos soldados, no Vietnã, estão matando, mutilando e queimando muito mais civis indefesos – homens, mulheres e crianças – do que inimigos armados.
            Viramos as costas diante das torturas aplicadas a prisioneiros de guerra pelos soldados do Vietnã do Sul. Bombardeamos diariamente o pequeno país do sudeste asiático com a explícita intenção de derrotá-lo por meio do terrível sofrimento imposto a seu povo. Ora, esse princípio em nada difere da aplicação de torturas na idade Média e não tem qualquer fundamento nas regras militares. Nossos boletins de guerra não se referem mais, como era feito em conflitos anteriores, a territórios conquistados, mas ao número de inimigos mortos numa dada operação. E lemos essas estatísticas macabras ao tomar o café da manhã ou na condução que nos leva ao trabalho.
            A continuar esse estado de coisas, o último traço de consciência em breve terá sido removido da condição humana e substituído pelo embrutecimento universal.
            Não creio ser necessário recordar-lhes que a supressão de impulsos destrutivos tem sido, ao longo de milênios, o objetivo principal de todas as religiões, tanto do cristianismo quanto do judaísmo ou do budismo. Será necessário recordar-lhes que a essência de todas essas religiões pode ser resumida na frase de que o homem deve escolher a vida, não a morte? Que a forma básica de todo comportamento ético é a reverência pela vida, como a praticou Albert Schweitzer?
            Deverei lembrar-lhes que esse princípio fundamental não se encontra apenas nas grandes religiões, mas também em toda a filosofia humanista e na origem mesma do sistema democrático, que se manifesta na proteção da vida de cada ser humano, mesmo na dos criminosos? O que nos ameaça, hoje, não é apenas o perigo de que um holocausto atômico destrua a civilização, mas o fato de que a estamos destruindo antes dele. A humanidade enfrenta o risco imediato de ver estraçalhada sua contextura moral, pois a essência dessa qualidade é exatamente o amor pela vida e por tudo o que é vivo, assim como o repúdio à terrível perversão representada pelo amor ao que é morto e putrefato, pelo culto da violência como instrumento de convicção.
            O anseio de liberdade, a exigência de liberdade, são sentimentos profundos de todo ser humano. Se não formos capazes de entender isso, estaremos danificando a nós mesmos. No entanto, mesmo se soubermos escolher entre vida e destruição. Se a indiferença à vida e à destruição tomar conta de nós, então estaremos completamente perdidos, pois nenhuma liberdade nos restará senão a de nos transformarmos em aves de rapina, em bestas-feras.
            Antes de 1914, depois de um século de paz, a humanidade subestimou a maldade em potencial que existe no homem, bem como a atração que sobre ele exercem a morte e a destruição. Tanto assim que um dos maiores psicólogos de todos os tempos, Freud, chegou a concluir que o instinto sexual era o mais temido e reprimido. Depois da Primeira Guerra Mundial, porém, Freud começou a reconhecer a força da destrutividade e a formulou em sua conceituação do instinto da morte.
            Ainda nos agarramos hoje, contudo, à versão otimista do século passado. Se abrirmos os olhos, constataremos que nossa consciência, com sua função de protesto contra o potencial destruidor que temos dentro de nós, está cada vez mais fraca. E, mais do que isso, que numa sociedade industrial e burocrática estamos nos transformando em objetos que manipulam outras pessoas como se fossem também objetos; deixamos progressivamente de amar a vida e passamos a adorar o princípio da organização e as quinquilharias que esta sociedade produz. O perigo maior que enfrentamos não é o de nos transformarmos em seres cruéis, mas em pessoas tornadas insensíveis e indiferentes à vida pela idolatria do que é mecânico, tecnocrático e morto.
            Sejam quais forem os erros e acertos da guerra do Vietnã, tomo posição ao lado de todos aqueles que, com base em nossas tradições religiosas e humanísticas, estejam bradando: Abaixo a Morte! Ou paramos com a matança, imediatamente, ou perderemos para todo o sempre a capacidade de conter o fluxo de morte e destruição.
            Não nos iludamos em pensar que nossa tragédia emana do que está acontecendo hoje no sudeste asiático. Vivemo-la aqui mesmo, dentro de casa, com a violência crescente em torno de nós: assassinatos brutais, a fúria destrutiva da delinquência juvenil. Como poderemos esperar que as novas gerações amem a vida, se são testemunhas de violência diária, consentida pelos mais velhos? O único meio de conter a onda de violência é o de nos tornarmos outra vez amantes da vida. Seja qual for nosso credo religioso, seja qual for nossa convicção ideológica, todos os que, entre nós, se preocupam com a recuperação do homem não devem perder tempo em discutir se Deus está morto ou não, se democracia é assim ou assado, mas dedicar-se à luta para que o homem e sua consciência não sucumbam no processo de brutalização a que estão submetidas. Temos de evitar a todo custo que nos transformemos numa nação de Eichmanns, para quem ordem e organização sejam valores mais altos do que a vida e o progresso.
(Tradução Ênio Silveira)

sábado, 20 de julho de 2019

O medo à liberdade no pensamento humanista de Erich Fromm

O MEDO À LIBERDADE NO PENSAMENTO HUMANISTA DE ERICH FROMM


Alan Ricardo Duarte Pereira*

O presente trabalho tem como objetivo analisar o medo à liberdade conforme foi conceitualizado e teorizado por Erich Fromm (1900-1980). E, de forma sucinta, buscaremos expor as concepções teórico-metodológicas de Fromm. Para isso, visamos analisar uma das principais obras que Erich Fromm expõe minuciosamente a problemática da liberdade, cognominada de O medo à liberdade. Num primeiro momento, buscaremos expor o contexto histórico-político de Fromm, juntamente com a Escola de Frankfurt, depois partiremos para a análise que o autor faz do conceito de liberdade e, por fim, destacaremos as problemáticas e implicações em torno do medo à liberdade na sociedade capitalista.
O psicanalista Erich Fromm tem uma obra vasta sobre psicanálise e marxismo, entre esse obras temos, principalmente, Análise do Homem, Conceito marxista do Homem, O coração do Homem , A crise da Psicanálise, Meu encontro com Marx e Freud, A missão de Freud , Psicanálise da Sociedade Contemporânea , além dessas obras existem duas tratando- se do conceito de liberdade, O Espírito da Liberdade e O medo à liberdade. As duas últimas obras, neste artigo, serão resgatadas- e principalmente a obra O medo à liberdade - para analisarmos o conceito de liberdade em Fromm.

A escola de Frankfurt e a teoria crítica

Primeiramente, para que se entenda as reflexões de Fromm sobre o conceito de liberdade, tornar-se-á necessário buscar suas fundamentações na chamada Escola de Frankfurt. O instituto foi fundado na cidade de Frankfurt, na Alemanha, em 1923, ligado à Universidade de Frankfurt. Os integrantes dessa escola foram Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Erich Fromm, entre outros. Essa escola buscou preencher algumas lacunas do marxismo tradicional, “extraindo” suas teorias dos mais diversos campos (psicanálise, filosofia, existencialismo, sociologia, história), sintetizando trabalhos como de Hegel, Kant, Lukács e principalmente, de Marx e Freud. Criaram, assim, o

 que foi considerado de “Teoria Crítica da sociedade”. Conforme aponta Matos (1993) em seu livro sobre a Escola de Frankfurt, “a Teoria Crítica realiza uma incorporação do pensamento de filósofos “tradicionais”, colocando-os em tensão com o mundo presente” (MATOS, 1993, p.13).
É importante observar que essa mesma escola não somente refutou as obras de alguns autores, mas, simultaneamente, incorporou uma gama de pensamentos, reformulando, por sua vez, as abordagens tradicionais, assim, pode-se considerar que os
Membros filiados a essa escola objetivaram realizar uma sistemática crítica ao positivismo e à racionalidade iluminista. Sem constituírem um bloco de fundamentação epistemológica homogênea, postulam posições algumas vezes não convergentes mas com um mesmo denominador comum: o questionamento com base filosófica. Por caminhos diversos, manifestaram- se desiludidos, como a grande maioria de intelectuais de sua época, com as transformações do mundo em que viviam, questionando com ceticismo tanto a validade da militância política quanto o desejo de autonomia e independência do pensamento. Ao apontarem para a centralidade dada ao método no positivismo, procuram observar o método para as ciências sociais sob outro ponto de vista. Ideologicamente falando, os integrantes da Escola de Frankfurt constituíam um grupo de intelectuais marxistas heterodoxos (...), no começo do século XX (HELOANI, 2007.p.2).

A análise de Fromm sobre o conceito de liberdade fundamenta-se no contexto vivido pela sociedade da Alemanha, isto é, com a ascensão do regime nazista, os participantes da escola, tentaram entender os regimes totalitários, é o caso de Fromm, ao lançar as bases do medo à liberdade, resultante, em grande parte, das consequências trazidas pelo regime nazista na Alemanha. A Escola de Frankfurt[1], além de abordar diferentes campos do saber, criou a chamada teoria freudomarxista. Foram poucos os frankfurtianos que tentaram fazer uma união entre marxismo e psicanálise, o caso de Fromm, revela-se especial, pois o autor, nas diferentes obras, tenta mesclar as duas concepções. No entanto, a composição entre as duas correntes não se dá, primeiramente, entendendo o marxismo pela psicanálise, ao contrário, entendendo a psicanálise pelo marxismo. Nesse ponto, Fromm, além de utilizar diversos elementos da psicanálise de Freud, também faz sua crítica,
Apesar de se inspirar nesses pensadores, Fromm busca ir além deles e produzir sua própria concepção, através da busca de síntese entre Marx e Freud. Porém, Fromm não poupa críticas principalmente a Freud.(...) Podemos dizer que Fromm endereçou a Freud diversas críticas. Podemos destacar, em primeiro lugar, a crítica metodológica; em segundo lugar, a crítica do biologismo e pansexualismo; em terceiro lugar, a crítica política. Estes três elementos não esgotam as divergências e críticas de Fromm a Freud (...). (VIANA, 2010, p. 42-43).

Tratando de entender a teoria freudomarxista, pode-se, em linhas gerais, considerá-la como fruto proeminente da Escola de Frankfurt, assim, entre suas principais características, define-se que foi uma corrente que,
(...) busca unir marxismo e psicanálise para fornecer uma explicação da sociedade. (...) Há muito tempo esta junção vem sendo almejada no pensamento ocidental, desde a Escola de Frankfurt, quando no final dos anos 1920 foi criada na Alemanha, depois a derrota da tentativa de revolução proletária, gerou uma contrarrevolução. Assim, buscou-se explicar o que alguns pensaram ser uma adesão da classe operária alemã ao nazismo. Neste momento, alguns passaram a defender a importância da psicologia social para a explicação do fenômeno nazista e outros fenômenos sociais. Autores como Adorno, Fromm, Reich, Marcuse, entre outros, produziram trabalhos que buscavam explicar o mecanismo psíquico do indivíduo na sociedade capitalista (VIANA, 2008, p. 13).

A partir do pensamento elaborado pela Escola de Frankfurt, o autor em estudo, Fromm, desenvolve sua teoria, tanto do medo à liberdade, como uma das principais inovações de sua obra, o conceito de inconsciente social, diferenciando, da proposta elaborada por Freud sobre o inconsciente.

O medo à liberdade segundo o pensamento humanista de Erich Fromm

 Fromm, por ser psicanalista, não deixa de abordar a problemática do medo à liberdade em termos eminentemente psicológicos, ao mesmo tempo, tenta partir para análise material-histórica. Pode-se ter um grado-geral, no qual podemos, explicitamente, observar as influências de Fromm,
Erich Fromm iniciou sua carreira de psicanalista na Alemanha. Ele foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa de Frankfurt, de onde sairia o conjunto de pensadores que foram identificados por pertencerem a "


Escola de Frankfurt" (Marcuse, Benjamim, Adorno, Horkheimer, entre outros), mas foi no período de ascensão do nazismo e sua ida para os Estados Unidos que ele começou a produzir suas grandes obras, entre as quais, O Medo à Liberdade, Análise do Homem, Psicanálise da Sociedade Contemporânea. (...) Fromm busca em Marx e na antropologia moderna elementos de análise que permitiram a construção de uma concepção histórica, social e cultural do ser humano (...). A síntese que Fromm irá realizar entre as ideias de Freud e Marx é bastante interessante. Fromm irá recusar e criticar várias teses de Freud e se desvencilhar de várias deformações da obra de Marx, ou seja, do “marxismo positivista de Lênin, Bukhárin e outros" (VIANA, 2002, p. 31-32).

A teoria sobre o medo à liberdade é, em linhas gerais, uma explicação para os regimes totalitários que surgiram na Europa, principalmente, para o caso do nazismo, o qual Fromm presenciou com toda a Escola de Frankfurt. Para Matos (1993), a questão do totalitarismo será imprescindível para compreender a Teoria Crítica elaborada pela Escola de Frankfurt, notando que “a ascensão do nazismo, a Segunda Guerra Mundial (...) foram os fatores que marcaram a Teoria Crítica da Sociedade (MATOS,1993.p.67).
Estando em solo americano, desde 1934 em Nova York, Fromm publicou seu primeiro livro[2]19 intitulado O medo á liberdade em 1941. Nesse livro, Fromm busca compreender o totalitarismo, como também, o conceito de liberdade. Logo, no prefácio do seu livro, Fromm afirma que
A tese deste livro é que o homem moderno, emancipado dos grilhões da sociedade pré-individualista que simultaneamente lhe davam segurança e o cerceavam, não alcançou a liberdade na acepção positiva de realização do seu eu individual: isto é, a manifestação de suas potencialidades intelectuais, emocionais e sensoriais (FROMM, 1974, p.10).
Além disso, como o conceito de individualização estaria circunstanciado a problemática de medo à liberdade? Como para alguns a liberdade será um objetivo cobiçado e para outros uma ameaça, um peso enorme? É nesse sentido que Fromm tenta explicar um dos principais problemas do mundo capitalista: o medo à liberdade. Para Fromm o conceito de liberdade é histórico-material e não estático, portando, é mister considerar que “a liberdade caracteriza a existência humana como tal e, outrossim, que seu significado muda

 de acordo com o grau com que o homem se percebe e concebe a si mesmo como um ser
independente e separado” (FROMM, 1974, p.29).
Desse modo, Fromm apresenta o que ele denominou de individuação, processo esse que, historicamente, estaria concatenado ao conceito de liberdade. A individuação, como o conceito de liberdade, mudaria com o passar das décadas, atingido, segundo Fromm, seu ápice na história moderna com a instauração da sociedade capitalista. Para exemplificar seu pensamento, Fromm relaciona seu conceito de liberdade e individuação ao processo de nascimento e crescimento da criança. Observa-se que a criança, ao nascer, permanece unida à mãe, mesmo depois da separação biológica.
Ela encontra-se protegida por elementos externos como o cuidado da mãe, sendo alimentada, carregada e sendo cuidada, isso dará à criança segurança e orientação. Esse aspecto que a criança encontra ao nascer, Fromm chama-os de vínculos primários. Para Fromm, “eles são orgânicos no sentido de fazerem parte do desenvolvimento humano normal; implicam uma ausência de individualidade, mas também dão segurança e orientação ao indivíduo” (FROMM, 1974, p.30). O processo de individuação é acelerado pela educação, pelo egocentrismo que é típico das crianças e também pela submissão exacerbada aos pais. Outros fatores que poderão ajudar a romper os vínculos primários e desenvolver por completa a individuação é, primeiramente, o fortalecimento físico, emocional da criança. O outro aspecto é a crescente solidão. À medida que a criança vai quebrando os vínculos primários, ela fica separada dos vínculos que, outrora, acobertava-a, portanto, começa a ficar sozinha. Assim, no momento que criança percebe-se só no mundo, ela, enxerga-se capaz de fazer as coisas por si próprias, sem a interferência de outrem. No entanto, ela deve, a partir de então, enfrentar o mundo sozinho, com seus aspectos perigosos. Para Fromm, é nesse período, que “surgem impulsos para se renunciar à própria individualidade, para superar o sentimento de isolamento e de impotência (...)” (FROMM, 1974, p. 33) Nesse sentido, a liberdade tem um significado diverso daquele que possuía antes.
Como podemos perceber, ao analisar o processo de individuação e, igualmente, o desvencilhamento dos vínculos primários, a criança passa por um longo período até atingir
o estágio supremo de individuação. Para chegar a esse ponto, foi necessário a criança emancipar-se dos grilhões que a controlava, para que assim, pudesse de maneira autônoma, tornar-se,  por  fim,  livre.   Não  obstante,  Fromm  tentará,  em  sua  obra, relacionar


filogeneticamente o processo de individuação à história do homem, apontando para isso, dois períodos da história humana: a idade média com as relações, tipicamente, feudais e, também, a idade moderna com a ascensão do regime capitalista.
Nesse ínterim, Fromm faz uma dicotomização do conceito de liberdade, segundo suas palavras, “(...) a liberdade é aqui empregada não em seu sentido positivo de “liberdade para, porém no negativo de “liberdade de”, ou seja, liberdade da determinação instintiva de suas ações (...) “Liberdade de” não é a mesma coisa que liberdade positiva, “liberdade para” (FROMM, 1974, p. 35-37).
Resta desse modo, identificar quais das liberdades são existentes em nossa sociedade capitalista. Ao comentar as implicações do conceito de liberdade em Fromm, afirma Santos,
(... ) a diferença entre a “liberdade de” e a “liberdade para”, sendo a primeira a liberdade existente também na sociedade capitalista que segundo o autor uma pseudoliberdade, e a segunda seria a realização da liberdade no sentido do homem se livrar das ideologias que o aprisionaram ao longo da história, bem como na sociedade capitalista (SANTOS, 2010, p.19).

Na história, segundo Fromm, o indivíduo surge durante os movimentos modernos, como o Renascimento e, principalmente, com o capitalismo. Assim, no período moderno, uma nova concepção de liberdade foi criada, encontrando solo fértil em novas doutrinas religiosas, como a Reforma. Nesse sentido, como era a liberdade na sociedade medieval, ou, se existia a noção de indivíduo? Para Fromm, o que diferencia a sociedade medieval da moderna, baseia-se em que, no período do medievo, não existia liberdade. Corroborando sua argumentação, Fromm, tenta mostrar como a Idade Média as pessoas, em sua maioria, não tinham possibilidade de mudar de uma classe para outra, não se podia sequer mudar geograficamente de um país para outro. Além disso, a vida em vários aspectos, como econômico e social era controlada por regras e coerções advindas, ora da Igreja, ora do poder monárquico. Ainda, segundo Santos
A sociedade medieval existia um sistema de pensamento fechado, articulado no qual o indivíduo estava integrado com o meio que lhe proporcionava uma relativa estabilidade, diferente da sociedade capitalista quando aparece o “indivíduo” emancipado, pois alterou-se a estrutura das classes, iniciando o que Marx denominou a luta entre o proletariado e a burguesia (Marx 1998) (SANTOS, 2010, p. 19).


A partir dessas constatações, observamos que, durante o período medieval, não existia o indivíduo, conforme a acepção moderna do termo. Fromm, nesse ponto assinala que “o homem estava ainda relacionado com o mundo pelos vínculos primários. Ele ainda não se concebia como indivíduo, salvo através de seu papel social (que era então, igualmente, seu papel natural” (Fromm, 1974, p.43). Portando, o ser humano no medievo é, dessa forma, comparado à criança logo ao nascer, precisando, desde cedo, de cuidados, em outras palavras, a sociedade medieval representa a não-individualização do ser humano, consequentemente, a não-liberdade. Em contraposição a isso, o início da modernidade pode, contudo, desenvolver a noção de indivíduo. Os grilhões que outrora cercavam o ser humano foram quebrados, agora, mais do que nunca, poder-se-ia desenvolver sua liberdade. No entanto, é nesse momento que o ser humano tem tudo, mas, ao mesmo tempo, surge o medo à liberdade.
Do mesmo modo que a criança, ao atingir o ápice da individualização, o ser humano fica sozinho no mundo, tendo que enfrentar de todos os lados perigos eminentes. Segundo Fromm
(...) a nova liberdade trouxe consigo duas coisas para eles: um maior sentimento de força e, ao mesmo tempo, maior isolamento, dúvida, ceticismo e - oriunda de tudo isso - mais angústia. É a mesma contradição que encontramos nas obras filosóficas dos humanistas. Lado a lado com seu realce revelam insegurança e desespero em sua filosofia (FROMM, 1974, p. 48).

Fromm também aponta que,
(...) o capitalismo libertou o indivíduo. Ele libertou o homem da arregimentação do sistema corporativo; permitiu-lhe firmar-se nos próprios pés e experimentar sua sorte (...) O indivíduo está livre da opressão dos grilhões econômicos e políticos (...) Mas simultaneamente está livre daqueles vínculos que costumavam dar-lhe segurança e uma sensação de relacionamento (FROMM, 1974, p. 58).

Ao deparar com isso, o indivíduo moderno foi deixado só, tendo que fazer tudo ao seu próprio esforço, sem ninguém para ajudá-lo. A liberdade, portando, começa a ter um sentido negativo, na qual os seres humanos não conseguem conviver, surge então, o medo à liberdade. O indivíduo pode emancipar-se dos grilhões que, outrora, controlava-o. Mas simultaneamente ele ficou livre, como a criança, dos vínculos (primários) que costumavam dar-lhe segurança e sensação de relacionamento. A liberdade deixa-o isolado tendo que


enfrentar o mundo sozinho. Assim, a liberdade adquire, então, um significado negativo, levando a destruição da personalidade. A liberdade torna-se um fardo demais pesado para o homem suportar, levando-o a ter, o medo à liberdade.
A análise que Fromm faz sobre do medo à liberdade é insatisfatória em certos pontos. Ao produzir sua teoria sobre a liberdade, Fromm, não consegue detectar que para se efetivar a liberdade em seu sentido positivo é necessário, antes de tudo, abolir a sociedade que gera o medo à liberdade, isto é, a sociedade capitalista marcada pela luta de classes. Na concepção de Santos,
O autor devido ao seu humanismo abstrato, tendência que se assemelha a uma solidariedade com as classes exploradas e, não perceber que o fundamental é lutar pela transformação social e que a superação dos males dessa sociedade passa necessariamente pela superação da sociedade capitalista (SANTOS, 2010, p. 18).

Portanto, a limitação conceitual de Fromm baseia-se em não reconhecer que a sociedade capitalista é quem produz o medo à liberdade, como também, apresenta da mesma forma, as coibições para se efetivar o projeto de liberdade para, segundo o termo cunhado por Fromm. No mesmo sentido, Viana assinala a importância do pensamento de Fromm, que “faz um diagnóstico crítico da sociedade capitalista, embora se perca quando tenta apresentar soluções dentro do capitalismo o qual, segundo ele mesmo, gera uma sociedade alienada. (VIANA, 2008, p.13). Assim, Fromm se perde em não reconhecer que a sociedade capitalista é, paradoxalmente, o principal obstáculo para a realização da liberdade. No pensamento de Marx podemos, em alguns pontos, entender a razão da não- liberdade no sistema capitalista, pois,
Procurando seu próprio espaço entre Hegel e Feuerbach, Marx busca apreender a liberdade a partir da base concreta das relações materiais, entretanto, encalha no modelo fenomenológico da autoconsciência. (...) Valendo-se da crítica a Proudhon, Marx atinge o refinamento metodológico que possibilitar-lhe-á uma abordagem filosoficamente mais consistente do problema da liberdade, através da exploração do potencial crítico de uma forma de exposição fundada em modelo de autoconstituição.(...) N'O Capital, a exposição do sistema capitalista enquanto totalidade concreta — síntese de múltiplas determinações — revela que as condições de possibilidade da confirmação do capital como princípio onímodo de síntese social são o desaparecimento da liberdade substancial do plano do discurso explícito — ao mesmo tempo em que se mantém a aparência de uma liberdade abstrata — e a consequente efetivação da não-liberdade (OLIVEIRA, 1998, p. 188-191).


Para Marx, a realização da liberdade não ocorreu devido o trabalhador ser livre, para vender somente seu trabalho que, em decorrência do capitalismo, torna-se, trabalho alienado. Nas palavras de Marx,
Todas essas consequências decorrem do fato de o trabalhador ser relacionado com produto de seu trabalho como com um objeto alienado. (...) A alienação do trabalhador em seu produto não significa apenas que o trabalho dele se converte em objeto, assumindo uma existência externa, mas ainda que existe independente, fora dele mesmo, e a ele estranho, e que se lhe opõe como uma força autônoma (MARX, 1983, p. 91).

Desse modo, considera-se que a liberdade no sistema capitalista é, portando, uma pseudoliberdade,
(...) posta pela sociedade capitalista é uma falsa liberdade, pois é uma liberdade puramente formal e abstrata. O trabalhador aparece como homem livre no mercado de trabalho unicamente porque antes todos os meios objetivos para o processo foram convertidos em propriedade do não trabalhador (...). Mas trabalhador livre para Marx é trabalhador destituído de todos os meios objetivos de realização de sua humanidade como trabalhador (...) (ANTUNES, 2009, p. 91).

Em decorrência de não reconhecer, numa perspectiva marxista, que o indivíduo é livre, mas somente para vender sua força de trabalho, Fromm, cai no malogro de somente apresentar a sociedade capitalista, mas, não vê, nesse mesma sociedade , que a superação do medo à liberdade consiste, portando, em extirpá-la, através da autogestão social[3]. Mesmo assim, pode-se considerar que a obra de Fromm constitui um marco importante para se pensar a liberdade, tendo um conteúdo pertinente e válido.

Referências

ANTUNES, Jadir. Marx e as noções de progresso, liberdade e sujeito na história. [On-line] 2009. Disponibilidade:
.Acesso: abril de 2011.
FROMM, Erich. O medo à Liberdade. Rio de Janeiro: Zahar,1974.
HELOANI, Roberto. A valorização da reflexão: o melhor antídoto contra o dogmatismo. [On- line] 2007. Disponibilidade: http://www.sepq.org.br/IIsipeq/anais/pdf/gt4/05.pdf .Acesso: abril de 2011.



MATOS, Olgária C. F. A Escola de Frankfurt: luzes e sombras do Iluminismo. São Paulo: Moderna, 1993.
MARX, Karl. Manuscritos Econômico- Filosóficos. In: FROMM, Erich. O Conceito Marxista do Homem. 8a edição, Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
OLIVEIRA, Avelino da Rosa. O problema da liberdade no pensamento de Karl Marx. [On-line] 1998. Florianópolis: Revista Perspectiva. Disponibilidade:
SANTOS, André de Melo. Reflexões sobre as implicações do conceito de liberdade em Erich Fromm. Revista Espaço Acadêmico. Disponível em:
VIANA, Nildo. Universo Psíquico e Reprodução do Capital: ensaios freudo-marxistas. São Paulo: Escuta, 2008.
                  . Inconsciente coletivo e Materialismo Histórico. Goiânia: Germial, 2002.
                .    Fromm    crítico    de    Freud.    [On-line]2010.    Revista    Espaço    Acadêmico. Disponibilidade: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/10501/5776                . Acesso: Acesso: abril de 2011.
                . Manifesto Autogestionário. Rio de Janeiro: Achiamé, 2008.



* Graduando em História pela Universidade Federal de Goiás.
[1] A Escola de Frankfurt, pode ser dividida em três momentos básicos, segundo Heloani (2007): no primeiro, período de antes e durante a Segunda Guerra Mundial, época da perseguição nazista, Horkheimer exerce a principal influência sobre o andamento dos trabalhos. No segundo, Adorno assume a direção intelectual do Instituto, introduz o tema da cultura e desenvolvimento em sua teoria estética, uma versão especial da teoria crítica. Já no terceiro momento, a liderança passa a Habermas que, pela discussão da crítica, buscará com sua teoria da ação comunicativa uma saída para os impasses criados por Horkheimer e Adorno, por meio da proposta de um novo paradigma: o da razão comunicativa. (HELOANI, 2007.p.3)
[2] Deve-se observar, todavia, que a obra em que Fromm vai defender sua tese sobre o medo a liberdade é uma concepção a priori do conceito de liberdade, especialmente, por que a primeira obra editada e publicada de Fromm é o livro intitulado de O medo à Liberdade , tendo sua primeira edição em 1941. Desse modo, alguns conceitos apresentados na obra, como o de liberdade, não resultam de um amadurecimento teórico e, às vezes, deixam por desejar nas incongruências analíticas.
[3] A autogestão, conforme empregada aqui é o meio para emancipação do ser humano, e,  igualmente,  a liberdade do indivíduo, abolindo, por sua vez, o mercado e o Estado. Portanto, “A autogestão é, assim, uma relação de produção e não como nas ideologias burguesas, mera forma de gestão de empresas, ou simplesmente democracia direta (VIANA, 2008, p. 78).
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Publicado originalmente na Revista Enfrentamento:
http://redelp.net/revistas/index.php/enf/article/view/880/pdf_53