A PESSOA HUMANA SEGUNDO ERICH FROMM
Caio César de Carvalho
Bacharel em Direito
pelo IPTAN
Resenha de: NASCIMENTO, Sílvio Firmo
do. A Pessoa humana segundo Erich Fromm. Curitiba: Juruá, 2010.
Nesta obra A pessoa humana segundo Erich Fromm, Sílvio Firmo
do Nascimento nos convida a refletir sobre o comportamento humano dentro dos estudos
de Erich Fromm (psicanalista e humanista), segundo uma proposta moralista de um
homem dialético e contemporâneo, dentro de expectativas entre um “eu existo” e
um “eu quero viver”.
Primeiramente, Nascimento trabalha a questão da crença
segundo Erich Fromm, apresentando, logo no início do livro, as principais obras
do psicanalista e humanista. O autor nos proporciona a compreensão de uma característica
marcante do pensamento de Fromm, segundo o qual existe uma valoração das
características do comportamento humano, atingindo, portanto, uma harmonia
entre o modo de ser e de agir da pessoa humana.
Crê-se que a variação de personalidade influa em
circunstâncias da conduta, ou seja, o “ser” e “dever ser” do homem faz com que
existam variações de comportamento, principalmente, aquelas referentes às disposições
para o bem e para o mal. A partir de estudos psicanalíticos, Nascimento nos
remete aos ensinamentos de Fromm, no que se refere às características mais
marcantes da personalidade humana, seguindo teorias desenvolvidas por Freud.
Fromm (NASCIMENTO, 2010, p. 40-47), influenciado por ideias
de Freud e em seguida de Marx, foi o precursor na ampliação das ciências
sociais, trazendo uma ideia de que a personalidade humana se confunde em temperamento
e caráter, existindo, entre o simbolismo aplicado ao temperamento bem como ao
desenvolvimento do conceito de caráter, uma divergência, a qual está
intimamente ligada ao conceito de personalidade segundo Fromm.
Segundo Fromm (NASCIMENTO, 2010, p. 50) o temperamento
refere-se à maneira de reagir, sendo constitucional e imutável. O caráter se
entende como “o padrão de comportamento característico de um certo indivíduo”.
A Psicanálise incluiu atualmente a esse conceito as relações interpessoais. Tem-se,
a partir das ideias anteriormente propostas, que existe a necessidade de um
processo de socialização, o qual faz o indivíduo seguir as razões de convívio
em sociedade, remetendo-se às regras propostas nos estudos da Psicanálise
humanista, de ser e de viver culturalmente. Essa forma de agir perante a
sociedade parte do convívio e do modo com que se dá o desenvolvimento familiar.
Segundo o autor (2010, p. 74), a abordagem principal de
Fromm para entender a personalidade humana está relacionada a compreender o
homem no mundo moderno, com a natureza e com o próprio ser, dando início ao processo
de socialização. A seguir, Nascimento (2010, p. 81) nos apresenta os mecanismos
de fuga, que para Fromm se tornaram culturalmente significativos.
Esses mecanismos decorrem da insegurança de um indivíduo
analisado isoladamente e, sem eles, a compreensão dos fenômenos sociais não
seria possível. Nascimento (2010, p. 83-98) dá destaque a alguns mecanismos de fuga,
os quais Fromm procura analisar, envolvendo a pessoa e seu modo de viver em
sociedade, mostrando que pessoas neuróticas se diferem de pessoas normais
apenas em grau mais acentuado.
O primeiro mecanismo de fuga a ser trabalhado na obra é o autoritarismo,
e está relacionado ao anseio de submissão e dominação que aparecem em diferentes
graus nos sádicos e masoquistas. O segundo a ser apresentado é a
destrutividade. Como propriedade do nome, esse tipo de mecanismo de fuga busca
a aniquilação ou a eliminação, visando ao afastamento do objeto pelo possuidor.
Dos mecanismos de fuga, o mais comum na sociedade contemporânea é o denominado
autômato. Os autômatos se camuflam na sociedade e se adaptam às condições de
convivência natural, resguardando um sentimento reprimido em troca de um
pseudossentimento.
Segundo Nascimento (2010, p. 98), “na sociedade moderna há
uma automatização do indivíduo”, onde o padrão cultural deve ser adaptado pelo homem.
O autor apresenta com destaque a questão da liberdade, relacionada ao desenvolvimento
humano e diretamente ligada ao processo social. Fromm destaca esse aspecto
humano direcionando seu pensamento às interações dos fatores psicológicos,
econômicos e ideológicos. Após essas considerações, busca-se interpretar os
conceitos de humanismo e ética, que ao longo dos tempos vêm baseando-se no
conhecimento e em sua natureza humana. O exemplo que vem enfatizar esse aspecto
na obra, de acordo com Nascimento (2010, p. 115), é o lema do iluminismo
“confie em seu conhecimento”, impulsionando o homem a julgar de acordo com seu
próprio pensar.
A ética humanista é dinâmica por se tratar da subjetividade
do modo de pensar, e a liberdade de ideias influencia diretamente na cultura,
que por sua vez não se mantém estática. O conhecimento se manifesta a partir da
vontade, que chega ao ponto máximo do “egoísmo”, talvez ligado aos vícios
individuais de sede de conquista pessoal, o que afeta diretamente a
consciência. Fromm trata como consciência humanista a reação de cada um visando
ao próprio bem estar e ao prazer verdadeiro, ou seja, a satisfação em
concretizar poderes adquiridos.
O livro é uma menção à Psicanálise desenvolvida na sociedade
contemporânea, com o objetivo de melhor compreender o comportamento humano, em
que a cultura descende das frustrações, angústias e paixões humanas. O
antropocentrismo a que Fromm nos remete segundo Nascimento (2010, p. 167), é o
da arte de viver do homem, suas capacidades e o modo de ser no mundo, suas
satisfações e alegrias juntamente com as exigências sociais de cada cultura.
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