terça-feira, 16 de julho de 2019

A PESSOA HUMANA SEGUNDO ERICH FROMM




A PESSOA HUMANA SEGUNDO ERICH FROMM

Caio César de Carvalho
Bacharel em Direito pelo IPTAN

Resenha de: NASCIMENTO, Sílvio Firmo do. A Pessoa humana segundo Erich Fromm. Curitiba: Juruá, 2010.

Nesta obra A pessoa humana segundo Erich Fromm, Sílvio Firmo do Nascimento nos convida a refletir sobre o comportamento humano dentro dos estudos de Erich Fromm (psicanalista e humanista), segundo uma proposta moralista de um homem dialético e contemporâneo, dentro de expectativas entre um “eu existo” e um “eu quero viver”.
Primeiramente, Nascimento trabalha a questão da crença segundo Erich Fromm, apresentando, logo no início do livro, as principais obras do psicanalista e humanista. O autor nos proporciona a compreensão de uma característica marcante do pensamento de Fromm, segundo o qual existe uma valoração das características do comportamento humano, atingindo, portanto, uma harmonia entre o modo de ser e de agir da pessoa humana.
Crê-se que a variação de personalidade influa em circunstâncias da conduta, ou seja, o “ser” e “dever ser” do homem faz com que existam variações de comportamento, principalmente, aquelas referentes às disposições para o bem e para o mal. A partir de estudos psicanalíticos, Nascimento nos remete aos ensinamentos de Fromm, no que se refere às características mais marcantes da personalidade humana, seguindo teorias desenvolvidas por Freud.
Fromm (NASCIMENTO, 2010, p. 40-47), influenciado por ideias de Freud e em seguida de Marx, foi o precursor na ampliação das ciências sociais, trazendo uma ideia de que a personalidade humana se confunde em temperamento e caráter, existindo, entre o simbolismo aplicado ao temperamento bem como ao desenvolvimento do conceito de caráter, uma divergência, a qual está intimamente ligada ao conceito de personalidade segundo Fromm.
Segundo Fromm (NASCIMENTO, 2010, p. 50) o temperamento refere-se à maneira de reagir, sendo constitucional e imutável. O caráter se entende como “o padrão de comportamento característico de um certo indivíduo”. A Psicanálise incluiu atualmente a esse conceito as relações interpessoais. Tem-se, a partir das ideias anteriormente propostas, que existe a necessidade de um processo de socialização, o qual faz o indivíduo seguir as razões de convívio em sociedade, remetendo-se às regras propostas nos estudos da Psicanálise humanista, de ser e de viver culturalmente. Essa forma de agir perante a sociedade parte do convívio e do modo com que se dá o desenvolvimento familiar.
Segundo o autor (2010, p. 74), a abordagem principal de Fromm para entender a personalidade humana está relacionada a compreender o homem no mundo moderno, com a natureza e com o próprio ser, dando início ao processo de socialização. A seguir, Nascimento (2010, p. 81) nos apresenta os mecanismos de fuga, que para Fromm se tornaram culturalmente significativos.
Esses mecanismos decorrem da insegurança de um indivíduo analisado isoladamente e, sem eles, a compreensão dos fenômenos sociais não seria possível. Nascimento (2010, p. 83-98) dá destaque a alguns mecanismos de fuga, os quais Fromm procura analisar, envolvendo a pessoa e seu modo de viver em sociedade, mostrando que pessoas neuróticas se diferem de pessoas normais apenas em grau mais acentuado.
O primeiro mecanismo de fuga a ser trabalhado na obra é o autoritarismo, e está relacionado ao anseio de submissão e dominação que aparecem em diferentes graus nos sádicos e masoquistas. O segundo a ser apresentado é a destrutividade. Como propriedade do nome, esse tipo de mecanismo de fuga busca a aniquilação ou a eliminação, visando ao afastamento do objeto pelo possuidor. Dos mecanismos de fuga, o mais comum na sociedade contemporânea é o denominado autômato. Os autômatos se camuflam na sociedade e se adaptam às condições de convivência natural, resguardando um sentimento reprimido em troca de um pseudossentimento.
Segundo Nascimento (2010, p. 98), “na sociedade moderna há uma automatização do indivíduo”, onde o padrão cultural deve ser adaptado pelo homem. O autor apresenta com destaque a questão da liberdade, relacionada ao desenvolvimento humano e diretamente ligada ao processo social. Fromm destaca esse aspecto humano direcionando seu pensamento às interações dos fatores psicológicos, econômicos e ideológicos. Após essas considerações, busca-se interpretar os conceitos de humanismo e ética, que ao longo dos tempos vêm baseando-se no conhecimento e em sua natureza humana. O exemplo que vem enfatizar esse aspecto na obra, de acordo com Nascimento (2010, p. 115), é o lema do iluminismo “confie em seu conhecimento”, impulsionando o homem a julgar de acordo com seu próprio pensar.
A ética humanista é dinâmica por se tratar da subjetividade do modo de pensar, e a liberdade de ideias influencia diretamente na cultura, que por sua vez não se mantém estática. O conhecimento se manifesta a partir da vontade, que chega ao ponto máximo do “egoísmo”, talvez ligado aos vícios individuais de sede de conquista pessoal, o que afeta diretamente a consciência. Fromm trata como consciência humanista a reação de cada um visando ao próprio bem estar e ao prazer verdadeiro, ou seja, a satisfação em concretizar poderes adquiridos.
O livro é uma menção à Psicanálise desenvolvida na sociedade contemporânea, com o objetivo de melhor compreender o comportamento humano, em que a cultura descende das frustrações, angústias e paixões humanas. O antropocentrismo a que Fromm nos remete segundo Nascimento (2010, p. 167), é o da arte de viver do homem, suas capacidades e o modo de ser no mundo, suas satisfações e alegrias juntamente com as exigências sociais de cada cultura.

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