MARX E FREUD NA LEITURA DE ERICH FROMM: ALGUNS APONTAMENTOS
Henrique BISETTO1
Resumo: O aparato teórico utilizado por
Erich Fromm em suas análises da sociedade contemporânea tem como base duas
principais fontes: Marx e Freud. A aproximação destas distintas correntes de
pensamento também aconteceu com os teóricos críticos do Instituto para Pesquisa
Social da Universidade de Frankfurt, como Max Horkheimer, Theodor Adorno e
Herbert Marcuse. Erich Fromm fora membro do Instituto tendo contribuído
decisivamente para as aproximações da psicanálise e do marxismo quando dos
primeiros anos desta instituição. Posteriormente, rompe com o Instituto e
desenvolve uma análise original da sociedade contemporânea, cujo principal
referencial teórico é uma leitura singular das obras de Marx e Freud.
Palavras-chave:
Erich
Fromm. Marx. Freud. Teoria crítica. Humanismo.
MARX AND FREUD IN ERICH FROMM READING: SOME
NOTES
Abstract: The theoretical apparatus
used by Erich Fromm on his analysis of contemporary society is based on two
main sources: Marx and Freud. The approach of these different chains of thought
also happened with the critical theorists of the Institute for Social Research
at the University of Frankfurt, as Max Horkheimer, Theodor Adorno and Herbert
Marcuse. Erich Fromm was member of the Institute, where he contributed
decisively to the convergence of psychoanalysis and Marxism in the early years
of this institution. Afterwards, he breaks his ties with the Institute and
develops an original analysis of contemporary society, with the main
theoretical framework being a singular way of reading the works of Marx and Freud.
Keyworks: Erich Fromm. Marx. Freud. Critical theory. Humanism.
Introdução
Fromm viveu boa parte do século XX, tendo acompanhado
de perto alguns dos principais acontecimentos deste período: a Primeira Guerra
Mundial, a Revolução Russa, a ascensão do Partido Nazista na Alemanha, o
Fascismo na Itália, o stalinismo na URSS, a Guerra Civil Espanhola, a Segunda
Guerra Mundial e a Guerra Fria. Suas obras procuravam responder às dúvidas,
desafios, expectativas e temores de seu tempo, nas quais percebemos um traço
particular de análise dos problemas sociais
1 Graduando em Ciências Sociais.
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de
Ciências e Letras. Araraquara – SP – Brasil. 14800-901 - hbisetto@yahoo.com.br
Erich Fromm teve um papel significativo no que se
refere ao desenvolvimento do pensamento social do século XX. Apesar de ter
recebido uma repercussão significativa de seu trabalho na época em que
escreveu, hoje em dia, sua obra é pouco mencionada nas análises sociais, sendo
que sua contribuição, neste sentido, teve mais repercussão no campo da
psicologia e psicanálise.
O Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt
A união entre psicanálise e pensamento social foi uma
das características das pesquisas realizadas no Instituto para Pesquisa Social localizado na Universidade de
Frankfurt (Alemanha), a célebre Escola de
Frankfurt ou Teoria Crítica.
Autores com
origens intelectuais e influências teóricas distintas reuniram-se a partir de
1923, em Frankfurt, empreendendo uma crítica radical daquele tempo. Max
Horkheimer, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Leo Lowenthal,
Franz Neumann, Erich Fromm, Otto Kirchkeimer, Friedrick Pollock e Karl
Wittfogel foram alguns dos pensadores que participaram do círculo frankfurtiano [...] De diferentes
maneiras, traduziram a desilusão de grande parte dos intelectuais com respeito
às transformações do mundo contemporâneo, seu ceticismo quanto aos resultados
do engajamento político revolucionário, mas também o desejo de autonomia e de
independência do pensamento. (MATOS, 1993, p.
5).
No início, seus fundadores cogitaram a possibilidade
de nomear o Instituto como Instituto para
o Marxismo, mas preferiram Instituto
para Pesquisa Social. Isso pode ser explicado por dois fatores principais:
o primeiro era o anticomunismo reinante nos meios acadêmicos alemães entre
1920-1939; o segundo, de que havia discordâncias entre a leitura que os membros
do Instituto faziam das obras de Marx com relação à concepção mais vigente do
marxismo da época (MATOS, 1993). Seja como for, pode- se perceber a forte
influência do pensamento de Marx na orientação das pesquisas feitas ali. Deste
modo, seu surgimento foi importante, pois “preenchia uma lacuna existente na
universidade alemã quanto à história do movimento trabalhista e do socialismo”
(MATOS, 1993, p. 12).
As pesquisas sociais realizadas pelos teóricos
ligados à Universidade de Frankfurt tinham uma orientação de crítica à
organização social da época, sendo, portanto, politicamente de esquerda. Sobre
o contexto histórico do surgimento do Instituto.
A ascensão do
nazismo, a Segunda Guerra, o “milagre econômico” no pós-guerra e o stalinismo
foram os fatores que marcaram a Teoria Crítica da Sociedade, tal como esta se
desenvolveu dos anos 20 até meados dos anos 70. (MATOS, 1993, p.6).
Estes acontecimentos muito intrigavam os
pesquisadores frankfurtianos que não estavam satisfeitos com as explicações
teóricas vigentes, fossem elas vindas do pensamento conservador ou da
interpretação marxista hegemônica da época. Assim, buscaram um novo método de
análise social marcado pela interdisciplinaridade na pesquisa, cujas principais
disciplinas do saber utilizadas nas pesquisas eram a Filosofia, a Sociologia e
a Psicologia – orientada de acordo com o projeto psicanalítico de Freud (ASSOUN
apud CASTRO; LIMA, 2014).
Aqui se faz necessário uma breve explanação sobre a
interdisciplinaridade do Instituto, principalmente no que se refere às ligações
entre a teoria psicanalítica freudiana e o marxismo. Tentar-se-á indicar as
linhas gerais dos vínculos entre a Sociologia e a Psicologia, estabelecidos
pelos membros do Instituto. Além disso, indicar também a importância da
psicologia, em especial da Psicanálise, na compreensão dos fenômenos sociais.
A grande referência teórica dos autores da
Universidade de Frankfurt no que diz respeito aos estudos dos fenômenos
psicanalíticos foi Sigmund Freud (1856-1939).
Freud foi o
[...] criador
da psicanálise, e um dos autores que mais profundamente revolucionaram o
pensamento de nossa época [...] Formou-se em medicina na Universidade de Viena
(1881) [...], mais tarde tornou-se professor da universidade, passando também a
manter um consultório em Viena. Começou a desenvolver sua teoria psicanalítica
no início do século, alcançando grande
fama e notoriedade [...]. A teoria freudiana teve grande impacto não só na
psiquiatria e na psicologia, mas na filosofia e nas ciências humanas e sociais
em geral. Especialmente para a filosofia, sua revelação do inconsciente como
lugar de nossos desejos reprimidos, origem de nossos sonhos e fonte de nosso
imaginário, provocou um profundo questionamento da tradição filosófica
racionalista que definia o homem precisamente por sua consciência e
racionalidade. [...] Freud desenvolveu assim um exame de um lado da natureza
humana em grande parte ignorado até então pela filosofia, forçando a revisão da
conceituação filosófica do pensamento, da razão, da consciência e da vontade.
(JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p.116-117).
Hoje em dia obra de Freud é reconhecida como uma
grande contribuição para se pensar o ser humano, tanto em sua esfera individual
quanto na esfera social. Porém, a princípio a teoria freudiana foi recebida com
receio pelos marxistas. Trotsky (1879- 1940) havia se mostrado favorável às
descobertas psicanalíticas de Freud, porém sua voz não foi escutada nos
círculos comunistas, onde a orientação pavloviana2 era mais forte e,
também, existia um tabu a respeito de Freud e seus seguidores. Reich, ex-
discípulo de Freud, que havia tentado uma conciliação deste ao pensamento
marxista tinha sido expulso tanto do partido comunista alemão como do movimento
psicanalítico alemão. Além disso, tanto conservadores quanto revolucionários
estavam de acordo que o pessimismo de Freud no que se refere às possibilidades
de transformação social eram incompatíveis com as esperanças revolucionárias de
um verdadeiro marxista (JAY, 1986).
O “pessimismo de Freud” no que se refere ao ser
humano em sua vivência em sociedade pode ser sintetizado tal como em Matos
(1993), que expõem as implicações da teoria freudiana nas análises sociais,
Em A civilização e seus descontentes, Freud
apresentou o dilema de toda vida civilizada: em primeiro lugar, a antítese
entre a busca individual de autogratificação e a necessidade de princípios
gerais de justiça aos quais devem se submeter todos os membros da sociedade. As
tendências hostis ou anti-sociais não se originam em um instinto de morte, mas
na própria energia da vida. (MATOS, 1993, p.36-37).
E completa tal argumentação citando uma passagem do
próprio Freud onde isso fica evidente:
Quase toda
relação emocional muito íntima entre duas pessoas que dura algum tempo –
casamento, amizade, relações entre pais e filhos – deixa sentimentos de aversão
e de hostilidade que só escapam à consciência como resultado da censura, da
repressão. Se tal aversão e hostilidade estão presentes até mesmo em relações
íntimas, pode-se imaginar o quanto estão manifestas nas relações nas quais não
se encontram ligações libidinosas, sensuais, primárias. (FREUD apud MATOS,
1993, p.37).
Posteriormente, as teorias de Freud foram recebidas,
basicamente, de duas maneiras distintas dentre os marxistas: um grupo
ressaltava a materialidade das
2 Ivan P. Pavlov (1849-1936) foi um fisiólogo russo que procurou explicar
o funcionamento da consciência como algo que derivava de “reflexos
condicionados e não condicionados”, fruto de reações fisiológicas. A psicologia
pavloviana foi bastante estimulada, em detrimento de outras teorias, na URSS
(BOTTOMORE, 2013, p.485).
descobertas freudianas, característica que possibilitaria a teoria de
portar uma verdade científica, tal como o marxismo; enquanto outro grupo via na
psicanálise e no pessimismo cultural de Freud uma naturalização da sociedade
burguesa, da ordem capitalista (CASTRO; LIMA, 2014).
Uma questão urgente: o nazismo
Apesar das divergências teóricas, havia certa
urgência no sentido de desenvolver um referencial teórico capaz de explicar um
fenômeno social que havia surgido na sociedade alemã e que se expandia em um
ritmo assustador: o nazismo e a forte adesão da população à propaganda deste
regime (CASTRO; LIMA, 2014).
No livro A Era
dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991, de Eric Hobsbawm (1995),
buscamos as principais referências teóricas para a compreensão do contexto
histórico do século XX. No capítulo 4, “A queda do liberalismo”, que trata do
fascismo e do nazismo, há uma interessante epígrafe que aponta para as
dificuldades do teórico social na tentativa de compreender o que foi este
regime alemão que tomou o poder em 1933:
No nazismo,
temos um fenômeno difícil de submeter-se à análise racional. Sob um líder que
falava em tom apocalíptico de poder ou destruição mundiais, e um regime fundado
numa ideologia absolutamente repulsiva de ódio racial, um dos países mais
cultural e economicamente avançados da Europa planejou a guerra, lançou uma
conflagração mundial que matou cerca de 50 milhões de pessoas, e perpetrou
atrocidades – culminando no assassinato mecanizado em massa de milhões de
judeus – de natureza e escala que desafiam a imaginação. Diante de Auschwitz,
os poderes de explicação do historiador parecem deveras insignificantes.
(KERSHAW apud HOBSBAWM, 1995, p.113).
O terror nazista desafiava os cientistas sociais a
encontrar explicações para a grande adesão da população da Alemanha, “um dos
países mais cultural e economicamente avançados da Europa”, ao regime de
Hitler.
As
explicações oferecidas pelo marxismo vulgar eram insuficientes. A questão não
estava em saber como a social democracia tinha, ou não, iludido os operários,
mas em saber por que estes se tinham deixado iludir, nem em saber se a
propaganda burguesa era ou não eficaz, mas em saber por que a contra propaganda
marxista era ineficaz. (ROUANET, 1986, p.14).
Diante dessa situação, a psicanálise aparecia como
uma importante ferramenta teórica que, “[...] enquanto disciplina do
funcionamento psíquico, oferecia mecanismos para uma explicação que
complementasse a história enquanto força motriz de seu movimento.” (CASTRO;
LIMA, 2014, p.5).
[...] se o
marxismo, enquanto ‘crítica a economia política’ desnuda a desrazão
objetivamente imanente a razão capitalista, a psicanálise, enquanto crítica da
consciência, pode revelar os mecanismos pelos quais o objetivamente irracional
se converte ao seu contrário, e é vivido como subjetivamente racional.
(ROUANET, 1986, p.122).
Com as descobertas freudianas sobre o inconsciente
era possível explicar a “irracionalidade” do nazismo que, quando combinada com
uma análise marxista, possibilitava uma compreensão mais profunda dos diversos
elementos relativos a complexidade deste novo fenômeno social. E é justamente
este o contexto no qual começa a surgir uma teoria que aproximava o marxismo do
freudismo. Esta tentativa, porém, implicava em uma alteração do marxismo
tradicional. Neste sentido, é comum lermos nos textos da teoria crítica a
afirmação de que a apropriação das teorias de Marx pelos pesquisadores a ela
vinculados acontece de uma maneira não
dogmática. Essa alteração das teorias do marxismo tradicional foi chamada
por alguns estudiosos de “neomarxismo”.
[…] la tentativa del Institut für
Sozialforschung para introducir el psicoanálisis em su Teoría Crítica
neomarxista fue así un paso atrevido y poco convencional. Fue también uma señal
del deseo del Institut de dejar atrás la camisa de fuerza del marxismo
tradicional. (JAY, 1986, p. 52).
Erich Fromm e o Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankurt
Cabe apontar alguns fatos importantes da aproximação
entre psicanálise e pensamento social nos autores vinculados à Escola de
Frankfurt. Horkheimer, um dos principais pensadores da Teoria Crítica, começou
a se interessar por Freud na década de 1920. Seu interesse foi parcialmente
estimulado por Leo Lowenthal — sociólogo posteriormente vinculado ao Instituto
—, que havia tido contato com a psicanálise por meio de Friede Fromm-Reichmann
(esposa de Erich Fromm). Em 1929, Horkheimer convence Karl Landauer, ex-aluno
de Freud, a formar o Instituto Psicanalítico de
Frankfurt, a primeira organização declaradamente freudiana a vincular-se
a uma universidade alemã3. Posteriormente outros membros foram se
unindo ao Instituto Psicanalítico, dentre eles, Heinrich Meng, Erich Fromm e
Friede Fromm-Reichmann. Erich Fromm havia sido indicado por Lowenthal, de quem
já era amigo há mais de dez anos, e se estabelece como uma das figuras mais
importantes no que se refere à tentativa de aproximação entre Marx e Freud
(JAY, 1986). Como afirma Martin Jay, “fue
así básicamente a través de la obra de Fromm como el Institut intentó
reconciliar a Freud e Marx” (JAY, 1986,
p.155).
Assim, aos poucos, a conciliação entre elementos
marxistas e freudianos foi acontecendo. Porém, houve diferentes abordagens no
que se refere a esta tentativa. As diferenças aconteceram tanto entre os
teóricos críticos quanto em autores que não necessariamente eram vinculados à
Universidade de Frankfurt. Wilhelm Reich, por exemplo, que não era vinculado ao
Instituto, afirmava que a repressão sexual trazia por conseqüência nos
indivíduos o conservadorismo político, enquanto a liberdade sexual propiciaria
condições para uma postura revolucionária surgir. Repressão sexual e dominação
política estariam, portanto, relacionadas. Assim, os níveis de liberdade ou
repressão sexual estariam relacionados à dominação política, e a sexualidade
passa a ser considerada, nesta linha de raciocínio, um elemento decisivo para
se pensar a emancipação social.
Dentre os frankfurtianos, duas obras se destacam a respeito desta problemática: Dialética do Esclarecimento, 1947, de
Adorno e Horkheimer; e Eros e Civilização,
de 1955, de Marcuse. Ambas estavam amparadas em uma leitura mais ortodoxa das
obras de Freud, ainda que as conseqüências para a práxis fossem divergentes entre elas, como veremos mais adiante. Em
a Dialética do Esclarecimento, os
autores utilizam o conceito freudiano de inconsciente para explicação de
fenômenos sociais como indústria cultural, antissemitismo, bem como
problematizam os limites e as possibilidades do projeto iluminista do
esclarecimento. Em Eros e Civilização,
Marcuse toma como base o conceito freudiano de pulsão para analisar ao
indivíduo reprimido e à civilização repressora (CASTRO; LIMA, 2014). A visão
trágica de Freud a respeito dos rumos da civilização – seguindo o raciocínio de
que civilização implica necessariamente repressão – estava presente nas conclusões
de Adorno e Horkheimer. Em Marcuse, porém, o “Freud revolucionário” é resgatado
e se vislumbra na práxis uma possibilidade
3 O próprio Freud escreveu uma
carta de agradecimento a Horkheimer (JAY, 1986, p.154).
de emancipação
por meio de, dentre outras coisas, da libertação sexual e da experiência
estética (JAY, 1986, p.183).
A respeito deste problema, qual seja, das
aproximações entre Marx e Freud, pode-se observar uma abordagem singular desta
questão nas obras de Erich Fromm. O texto que segue tentará indicar as
singularidades da metodologia freudo-marxista4 desenvolvida por
Fromm.
Marx e Freud: a leitura de Erich Fromm
Em Beyond the
Chains of Illusion. My Encouter with Marx and Freud, de 1962, traduzido em
português por Meu encontro com Marx e
Freud (1965), livro no qual Erich Fromm faz sua “autobiografia
intelectual”, onde explica as razões que o levaram a se interessar por Marx e
Freud, assim como também a tentativa de conciliar
estas duas escolas de pensamento, escreve o autor que,
Perturbava-me
profundamente as questões relacionadas com os fenômenos individuais e sociais,
e ansiava por encontrar uma resposta. Tive-a nos sistemas de Freud e Marx. Mas
fui também estimulado pelo contraste entre
os dois e pelo desejo de resolver essas
contradições. (FROMM, 1965b, p. 14, grifo
nosso).
Devido aos limites deste trabalho, não entraremos em
detalhes pessoais que teriam influenciado o autor a se interessar pelos autores
acima citados. Detenhamo-nos, pois, em questões referentes à sua metodologia de
análise, em especial acerca de sua interpretação das obras de Marx e de Freud e
da conciliação que surge a partir dela.
Fromm fez parte do grupo de intelectuais ligados à
“Escola de Frankfurt” nos primeiros anos de funcionamento desta Instituição,
tendo contribuído decisivamente para as aproximações teóricas que resultaram no
freudo-marxismo característico do Instituto, como foi afirmado anteriormente.
Porém, no final da década de 1930, rompe os laços com o Instituto e, por conta
de sua formação em psicanálise, passa a se dedicar ao trabalho clínico5
(JAY, 1986).
Esta aproximação com o trabalho clínico serviu como um
“estímulo invalorable para su obra
especulativa, estímulo del que carecieron los otros miembros del Institut”,
4 Termo utilizado por Rouanet (1986).
5 No texto que segue voltaremos a abordar a questão da
saída de Erich Fromm e seus motivos.
segundo Jay
(1986, p.158). De acordo com as palavras de Erich Fromm em Meu encontro com Marx e Freud,
No que se
relaciona com minhas teorias psicológicas, tive um excelente ponto de
observação. Por mais de trinta e cinco anos pratiquei psicanálise. Examinei
minuciosamente o comportamento, as associações livres e os sonhos das pessoas a
quem psicanalisei. Não há uma única conclusão teórica sobre a psique humana,
neste livro ou nos outros que escrevi, que não se baseie numa observação
crítica do comportamento humano, feita no decorrer de meu trabalho como
psicanalista. (FROMM, 1965, p.15).
Essa experiência clínica fez com que Fromm, após dez
anos de trabalho clínico, discordasse de alguns elementos do sistema freudiano
de análise psicanalítica. Assim, essa interpretação não ortodoxa da obra de
Freud lhe rendeu o rótulo de “revisionista”, acusação com a qual ele nunca
concordou. Além de Fromm, outros ex-discípulos de Freud como, por exemplo,
Wilhelm Reich e Carl Gustav Jung, eminentes psicanalistas, também foram
chamados de revisionistas. A respeito do rótulo de revisionista, Erich Fromm se
justificou em uma carta a Martin Jay em 1971.
No he dejado nunca el freudismo [...] a menos que se identifique a Freud con su
teoria de la libido [...] Considero
que el logro básico de Freud es su concepto del inconsciente, sus
manifestaciones en la neurosis, los sueños, etc., la resistência y su concepto
dinâmico de carácter. Estos conceptos han conservado para mí su importância
básica em toda mi obra, y decir que porque rechacé la teoria de la libido he
renunciado al freudismo es una declaración muy drástica posible solo desde el
punto de vista del freudismo ortodoxo. Em cualquier caso, nunca renuncié al
psicanálisis, nunca he querido formar una escuela própria [...] He criticado siempre la ortodoxia freudiana
y los métodos burocráticos de la organización internacional freudiana, pero
toda mi obra teórica está basada em lo que considero los hallazgos más
importantes de Freud, com la excepción de la metapsicología. (JAY, 1986, p.157).
No texto que segue pontuamos, em linhas gerais, as
principais críticas que Fromm faz a respeito das limitações do pensamento de
Freud, motivo pelo qual ele foi chamado de revisionista. A primeira crítica ao
pensamento de Freud, e talvez uma das que mais lhe causou divergências com
outros psicanalistas, foi referente à importância excessiva que Freud teria
dado à sexualidade, no sentido de interpretar todas as paixões humanas como
motivadas por instintos sexuais. Assim, Fromm é um crítico do complexo de Édipo freudiano. Tal
complexo, em linhas gerais, afirmava que todo homem teria desejos inconscientes
de se relacionar sexualmente com a própria mãe
e,
por conseqüência, também assassinar o próprio pai. Para exemplificar esse
caso, Freud recorreu ao livro Rei Édipo,
do grego Sófocles, no qual o personagem principal, Édipo, se casa com a mãe,
por engano, e, sem o saber, acaba assassinando o pai. Daí o nome, complexo de
Édipo. De acordo com Fromm, a ênfase à sexualidade na teoria de Freud acontecia
porque ele estava preso ao “materialismo burguês” de sua época que buscava
causas materiais – no caso da medicina, fisiológicas – no diagnóstico do
comportamento humano. Sobre o materialismo burguês de Freud, lemos nesta obra
que
[...] o dogma
do materialismo burguês era o de seus mestres, especialmente o seu mais
importante professor, von Brücke. Freud permaneceu sob forte influência do
pensamento de von Brücke e do materialismo burguês em geral; e, sob tal
influência, foi incapaz de conceber a existência de fortes poderes físicos dos
quais não se pudesse demonstrar que tinham raízes fisiológicas específicas.
(FROMM, 1980, p.12).
Além disso, houve críticas de Erich Fromm à teoria
freudiana para além dos assuntos relacionados à sexualidade. Outra limitação do
pensamento do criador da psicanálise foi o fato de ele estar preso ainda à
“atitude burguesa e autoritária (patriarcal)” (FROMM, 1980, p.12), típica de
seu tempo e de sua classe
Para ele [Freud],
sociedade burguesa e sociedade civilizada eram sinônimos; e, embora
reconhecesse a existência de culturas peculiares quem eram diferentes da
sociedade burguesa, elas não passavam, em seu entender, de culturas primitivas,
subdesenvolvidas. (FROMM, 1980, p.27).
Nesse sentido, Freud teria analisado características
comportamentais típicas de seu contexto histórico e interpretado elas como
comportamentos universalmente válidos. Como, por exemplo, no caso da dominação
da mulher na sociedade patriarcal do século XIX, que foi analisado como um
fenômeno universal: a mulher como um ser inferior ao homem. Como exemplificado
na passagem,
Uma sociedade em
que as mulheres fossem iguais aos
homens, em que estes não mandassem por causa de sua alegada superioridade
fisiológica e física, era simplesmente inconcebível para Freud. Quando John Stuart Mill, a quem Freud muito
admirava, expressou suas idéias acerca da igualdade das mulheres, Freud
escreveu numa carta: ‘Neste ponto, Mill está simplesmente doido’. (FROMM, 1980,
p.12).
Além disso, quando Freud considerava as mulheres
“essencialmente narcisistas, incapazes de amar e sexualmente frias” (FROMM,
1980, p.14), o que revela que o pensamento dele estava ainda preso aos padrões
de comportamento de seu tempo.
Resta outro ponto a ser analisado nas críticas de
Fromm ao pensamento de Freud. O primeiro afirma que o segundo, quando analisava
seus pacientes, tinha como modelo padrão de sanidade o típico homem de sua
classe: de classe média alta e moral burguesa. Por conseqüência, o paciente
considerado são era aquele que se adequava
ao comportamento padrão do burguês bem-sucedido da época. Mais uma vez,
tomava um caso específico – no caso o comportamento de um homem típico de seu
tempo e de sua sociedade – e transformava em padrão de validade universal.
Para além das críticas consideradas “revisionistas” do
pensamento freudiano, Fromm também foi criticado pelo otimismo que tinha a
respeito das possibilidades de emancipação social. Neste sentido, Fromm foi
acusado de ter se convertido em uma Pollyanna:
“[...] persona absurdamente optimista.
Denominación tomada de una popular novela publicada en 1913, Pollyanna de
Eleanor Porter, en la cual la protagonista insiste em dar siempre com el
aspecto positivo de la realidad.” (JAY, 1986, nota de rodapé, p.173). Fromm
não concordava com a denominação.
A respeito desse fato Jay (1986,
p.174) considera que,
Es difícil, no obstante, leer sus obras
últimas sin arribar a la conclusión de que, em comparación com Horkheimer y los
otros miembros del círculo interior del Institut, quienes fueran abandonadas
sus vacilantes esperanzas de las décadas de 1920 y 1930, Fromm estaba
defendiendo uma posición más optimista.
O rompimento com o Instituto para Pesquisa Social da Escola de Frankfurt
Em 1939, Fromm rompe os laços com a Escola de
Frankfurt. Dentre os motivos, o principal é a divergência teórica que ele tinha
com os outros autores do Instituto a respeito de sua interpretação das obras de
Freud – relatadas anteriormente neste artigo. Um ano depois, Fromm emigra para
os Estados Unidos junto a um grupo de intelectuais europeus que fugiam do
terror nazista da Alemanha. O contexto de sua emigração é relatado em Hobsbawm
(1995, p.151):
O racismo
nazista logo provocou o êxodo em massa de intelectuais judeus e esquerdistas,
que se espalharam pelo que restava de um
mundo
tolerante. A hostilidade nazista à liberdade intelectual quase imediatamente
expurgou das universidades alemãs talvez um terço de seus professores. Os
ataques à cultura “modernista”, a queima pública de livros “judeus” e outros
indesejáveis, começaram quase com a entrada de Hitler no governo.
Neste sentido, Fromm, intelectual, politicamente posicionado
à esquerda, e de religião judaica, tinha motivos para temer a expansão nazista
que aconteceu rapidamente entre os anos de 1933-1939. Posteriormente,
migraram-se também para os Estados Unidos: Horkheimer, Adorno, Marcuse, entre
outros intelectuais europeus.
Nos EUA viveu boa parte de sua vida, lecionando em
diversas Universidades de renome deste país e tendo uma destacada recepção
pública de sua produção teórica (SCHAAR, 1965). É neste período que escreve
suas obras mais conhecidas como O Medo à
Liberdade (1941), Análise do Homem (1947),
A Linguagem Esquecida (1951), A Arte de Amar (1956), A missão de Freud (1959), Conceito Marxista do Homem (1961), Meu Encontro com Marx e Freud (1961), Anatomia da Destrutividade Humana (1972)
e Grandeza e Limitações do Pensamento de
Freud (1979).
Em 1941, Erich Fromm escreve aquele que é talvez o seu
livro mais lido Escape from Freedom,
traduzido em português por O Medo à
Liberdade. Neste livro percebemos um afastamento cada vez maior do
freudismo ortodoxo e dos teóricos de Frankfurt. O Medo à Liberdade é também um marco da aproximação de Fromm às
questões “existenciais”. Deste modo, o conceito de alienação de Marx ganhava um
peso decisivo, como afirma Jay (1986, p.172): “La noción de alienación, que Fromm había encontrado tan sugestiva en
los primeros escritos de Marx, estaba claramente en la raíz de su nuevo
enfoque.”
No prefácio de O
Medo à Liberdade, Erich Fromm explica as razões que o motivaram a ter
escrito este livro:
A tese deste
livro é que o homem moderno, emancipado dos grilhões da sociedade
pré-individualista que simulteneamente lhe davam segurança e o cerceavam, não
alcançou a liberdade na acepção positiva da realização do seu eu individual:
isto é, a manifestação de suas potencialidades intelectuais, emocionais e
sensoriais. A liberdade, não obstante
haver-lhe proporcionado independência e racionalidade, fez com que ele ficasse
sozinho e, por conseguinte, angustiado e impotente. Este isolamento é
intolerável e as alternativas com que ele defronta são, seja a de escapar do
peso dessa liberdade para novas dependências e para a submissão, seja para
progredir para a realização plena da
liberdade positiva que se baseia na originalidade e individualidade do homem.
(FROMM, 1968, p.10).
É por meio do conceito de “medo à liberdade” que
Fromm procura explicar a adesão em massa dos alemães aos ideais nazistas.
Em O Medo à
Liberdade, Fromm, sob influência de Freud, desenvolve seus próprios
conceitos de estrutura de caráter do homem moderno, porém, sem recorrer a
argumentos relativos à sexualidade. Assim, é por meio da análise desta
estrutura de caráter que se pode perceber a conexão entre fatores individuais e
sociais:
É finalidade
deste livro analisar os fatores dinâmicos da estrutura de caráter do homem moderno que o levaram a querer
desistir da liberdade nos países fascistas e que predominam de forma tão
generalizada entre milhões de nossa própria gente. (FROMM, 1968, p.15).
A adesão em massa de indivíduos a crenças irracionais
e violentas seria explicada nesta lógica de raciocínio: “A religião e o
nacionalismo, assim como qualquer costume e qualquer crença, por mais absurdos
e degradantes que sejam, desde que liguem o indivíduo a outros, são refúgios
contra aquilo que o homem mais teme: o isolamento.” (FROMM, 1968, p.26).
As obras posteriores de Erich Fromm seguem a linha de
pensamento traçado em Medo à Liberdade,
marcando essa nova fase de seu pensamento. Uma característica deste estilo é a
aproximação cada vez mais forte do autor com as correntes do humanismo
Ocidental.
Além de Freud, outra importante referência para Fromm
é a ciência social de Marx. Neste sentido, a leitura que Fromm faz da obra de
Marx é uma leitura humanista do socialismo; assim como sua leitura de Freud que
ressalta os aspectos humanistas de suas descobertas6.
Para ele, Marx e Freud além de grandes pensadores,
foram também grandes humanistas:
Humanismo no
sentido de que todo homem representa toda a humanidade, portanto, que não há
nada de humano que lhe possa ser estranho. Marx apoiava-se nessa tradição, de
que Voltaire, Lessing, Herder, Hegel e Goethe são alguns dos representantes
mais destacados. Freud expressou seu humanismo principalmente no conceito de
inconsciente. Supunha que todos os homens partilham dos mesmos anseios
inconscientes e, portanto, podem compreender-se
6 Além disso, Fromm operava
suas análises clínicas com base em um método que ele denominava psicanálise
humanista ou psicologia humanista.
mutuamente, uma vez que se
disponham a mergulhar no submundo do inconsciente. (FROMM, 1965, p.21-22).
Nesse sentido, o livro Manuscritos Econômicos e Filosóficos de Marx, por exemplo, é um dos
livros que mais influenciaram Erich Fromm. Nos Manuscritos, podemos perceber o “jovem” Marx refletindo sobre a
sociedade capitalista e a necessidade de superação deste sistema, tudo isto com
um forte teor humanista que muito contrastava com a interpretação marxista
hegemônica da época, fortemente influenciada pelo Komintern, a “Terceira Internacional”.
O Komintern foi
uma instituição criada por Lênin para funcionar como um centro difusor do
comunismo para os outros países. Após sua morte, porém, foi comandada por Josef
Stálin (1878-1953), líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, URSS,
conhecido por sua postura ditatorial e autoritária. O Komintern agia como um grande partido que impunha subordinação aos
partidos comunistas de outros países, em troca de apoio político e financeiro.
A estratégia indicada aos outros países, especialmente aos países do
capitalismo periférico, era o de desenvolvimento das forças produtivas:
primeiro é preciso desenvolver a infraestrutura para que, então, a
superestrutura possa se desenvolver. A tarefa principal do revolucionário, de
acordo com Moscou, era a de contribuir para este desenvolvimento: seja fazendo
alianças com as burguesias locais, seja por meio de uma industrialização
forçada em regiões do capitalismo “atrasado” (HOBSBAWM, 1995).
Uma das conseqüências desta leitura
“positivista-mecanicista” era que esse determinismo econômico serviu para
justificar modelos políticos autoritários e violentos que, ao invés de
conduzirem a um projeto político de emancipação humana, a uma sociedade mais
justa e igualitária, a uma sociedade menos alienada, conduziram a sociedade num
sentido contrário: ao autoritarismo, à subordinação e à diversas formas de
alienação (FROMM, 1983, p.73).
Em Conceito
Marxista do Homem, Fromm busca, pois, o resgate do marxismo humanista,
assim como realiza a crítica aos regimes que se autodenominam como seguidores
de Marx, mas que haviam alterado profundamente partes importantes de seu
sistema teórico. Segundo Fromm (1983, p.9, grifo nosso) a “União Soviética
[...] [é] um sistema de capitalismo de Estado conservador, e não a concretização do socialismo marxista”,
assim como a China, que nega “pelos meios empregados, a emancipação do indivíduo que é a própria meta do socialismo”. Ou seja, ao agir desta forma, Fromm
pretende
manter-se fiel à tradição marxista ao indicar que o modelo praticado por estes
Estados não é coerente com a filosofia de Marx que, ao contrário desses
regimes,
[...]
representa um protesto contra a alienação do homem, contra sua perda de si
mesmo e contra sua transformação em objeto; é um movimento oposto à
desumanização e automatização do homem, inerente à evolução do industrialismo
ocidental. Ela se mostra implacavelmente crítica para com todas as “soluções”
para o problema da existência humana que tentam apresentar propostas negando ou
mascarando as dicotomias intrínsecas da existência do homem. A filosofia de
Marx tem suas raízes na tradição filosófica ocidental humanista, que se estende
de Spinoza, através dos filósofos do iluminismo francês e alemão do século
XVIII, até Goethe e Hegel, e sua essência mesma é a preocupação com o homem e
com a realização de suas potencialidades. (FROMM, 1983, p.7).
Considerações finais
Em linhas gerais, foi por meio do materialismo
histórico e do método dialético que Erich Fromm pôde compreender como
funcionava o capitalismo: suas leis próprias, seu funcionamento e seu
desenvolvimento. E no sistema freudiano encontrou as respostas para as
“estranhas e misteriosas razões das reações humanas” (FROMM, 1965, p.9). A
conciliação entre ambas as teorias aconteciam com base no humanismo que Fromm
identificava em ambos os autores.
Fazendo um balanço sobre a importância desses
autores, Fromm ressalta que: “[...] juntamente com Einstein, eles foram os arquitetos
da era moderna [...], cada qual de sua forma singular, encerra elementos da
mais alta arte, bem como da ciência, a mais alta expressão do anseio humano de
entendimento, sua necessidade de saber.” (FROMM, 1965, p.16).
Porém, os dois autores não têm, segundo Fromm, uma
importância simétrica com relação às suas contribuições ao conhecimento humano.
Apesar de reconhecer grandezas na descoberta de Freud, escreve Fromm em sua
autobiografia intelectual que: “Marx é uma figura de significação histórica com
a qual Freud não pode sem mesmo ser comparado”, tendo desenvolvido um sistema
de pensamento “de muito maior profundidade e alcance” do que o médico de Viena.
(FROMM, 1965, p.17). Ainda assim, Fromm reconhece Freud como o fundador da
“Psicologia verdadeiramente científica”, tendo dado “uma contribuição
excepcional para a ciência do homem, cuja imagem alterou para todo o sempre.”
(FROMM, 1965, p.17).
Desta conciliação surgem interessantes interpretações
da sociedade moderna, assim como também duras críticas aos rumos do
desenvolvimento econômico tanto dos países “socialistas” quanto dos países “do
mundo livre”. Em suma, segundo Fromm, nem os países ditos socialistas nem os
países capitalistas eram modelos que possibilitavam que os potenciais humanos
se desenvolvessem plenamente. Na URSS, por exemplo, principal referência de
modelo alternativo ao capitalismo, o indivíduo era controlado pela burocracia do
partido comunista, e sua individualidade, anulada. No “mundo livre”, por outro
lado, a mercantilização da vida fazia com que o cálculo fosse introjetado na
subjetividade das pessoas, inclusive na consideração de suas relações afetivas;
e o consumismo cada vez crescente era mantido por meio de ilusões difundidas
pela propaganda em massa.
Sua experiência clínica como psicanalista lhe rendeu
uma sensibilidade capaz de se atentar para as principais necessidades e os
principais temores do ser humano enquanto indivíduo. Além disso, não deixou de
fazer uma arguta crítica social à forma com que as principais potências
econômicas de seu tempo estavam organizadas, bem como para o padrão de
socialização que elas engendravam nos indivíduos. Deste modo, em uma dialética
entre o micro (individual) e o macro (social), Fromm fez uma leitura original
de seu tempo, cujo principal referencial teórico era a óptica humanista com que
ele leu Freud e Marx.
REFERÊNCIAS
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do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
CASTRO, E. M. A. de., LIMA, A. F.
de. O freudismo e a teoria crítica. Revista
de Psicologia, Fortaleza, v. 5, n. 2, p. 108-123, jul./dez. 2014.
FROMM, E. Conceito
marxista do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
FROMM, E. Grandeza
e limitações do pensamento de Freud. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
FROMM, E. Meu encontro com Marx e Freud. Rio de
Janeiro: Zahar, 1965. FROMM, E. O mêdo à
liberdade. Rio de Janeiro: Zahar, 1968.
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
JAPIASSÚ, H., MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 4.ed.atual. Rio de Janeiro: Zahar,
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JAY, M. La
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Taurus Ediciones, 1986.
MATOS, O. C. F. A
escola de Frankfurt: luzes e sombras do iluminismo. São Paulo: Moderna,
1993.
ROUANET, S.
P. Teoria crítica e psicanálise. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1986.
SCHAAR, J. H. O mundo de Erich Fromm. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
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